Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Saturday, August 28, 2010

EU VOU...

-Cuidado!
Um grito rouco sai da boca da multidão.Um gemido lento e doloroso parte de dentro de mim.
Eu sei que um tiro seco e covarde vai apagar meu sonho, a vontade de ser livre e o meu desejo de ser feliz.Me vejo caindo em um abismo.Não existe retorno.Vejo pouco o presente, mas meu passado posso ver tão claro... É tudo tão nítido.Meu sorriso de infância, minhas lágrimas.Tudo agora se confunde, o real e o sonho.
Alguém se aproxima de mim.Sinto tocarem meu corpo, mais pessoas vão se juntando.Todos querem ver meu rosto, não posso mais me esconder.Meu sangue ainda está quente.Eles podem observar...
Os “homens” se calaram, não parecem mais tão fortes assim, estão doentes.Acreditam que podem pensar e agir por mim e por todos.Na verdade, eles não sabem pensar.Eles são os donos do circo, domam outros homens, jogam com a verdade e fabricam assassinos.
Agora já posso sentir a dor da morte.E a dor da morte nem é tão forte assim, não tão forte quanto a dor da solidão deste viaduto que estou deitado. Me sentindo como um pano velho,estirado sobre qualquer coisa.
Parece que a cortina vai se fechar.Agora sei que sou uma pintura, gravado na tela da morte e já apagado pelas lágrimas deste tempo.
Já não posso mais gritar, sinto perder os sentidos, sei que estou morrendo...
Está tudo ficando claro, estou dizendo adeus a quem amo.Eu vou...

Tuesday, August 10, 2010

Meninas





Existem meninas bonitas, filhas das favelas
meninas sem glória
A história criando mulheres
mulheres mentindo pra história

Arma em punho
batom feito de sangue
Prontas pra deitar
e fazem do medo uma folia
É um velho filme conhecido
e se repete todo dia

Entrada sem direito à saída
só uma lei pra viver
Os infernos estão cheios
de meninas bonitas
que o mundo não esperou crescer

Este lugar é uma tela
que alguém jogou sangue
Tem histórias de arrepiar
uma obra-prima tão cruel
que o autor não quis assinar

São meninas bonitas
inventadas para amar
Enviam sussurros quentes pelo vento
Carregam um brilho estranho nos olhos
de quem já aprendeu a matar