Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Monday, January 28, 2013

Tragédias Cotidianas


Tragédias Cotidianas
Foto: UOL

Minha amiga Rita Rodrigues me perguntou se eu não comentaria sobre o que aconteceu na casa de shows em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Eu disse a ela que não havia muito o que comentar. Pensei realmente em não escrever nada sobre o assunto. Estava esperando esgotar toda a exploração midiática e política do acidente.
Após refletir,decidi que não devo e não posso perder o direito de me indignar sobre mais uma tragédia.
A indignação começa quando as vidas perdidas já não importam,importam apenas as melhores imagens,os melhores ângulos,aquela imagem exclusiva. Me indigna também os comentaristas profissionais,com suas suposições e falastrices.
A indignação aumenta quando começam a apontar os culpados. O culpado é o músico,não poderia ter usado fogos de artifício no palco. A culpa não é do músico,a culpa é todos nós. Nós matamos os jovens na casa de shows. Nós acendemos o fósforo que matou um pouco de uma nova geração de brasileiros. Porque somos nós que fazemos as escolhas erradas,somos nós que não damos atenção à corrupção que destrói nossas vidas. Somos culpados porque não cobramos devidamente aqueles que nos representam. Somos culpados porque não amamos os nossos iguais. Somos culpados porque somos egoístas.
Nós matamos os jovens em Santa Maria,porque sabemos que a fiscalização nas prefeituras são apenas órgãos paralelos de arrecadação para políticos. Sabemos também que os donos da casa de shows , que só pensavam no lucro e certamente pagavam propina à alguém.
Somos todos culpados porque as tragédias não mais nos assombram,elas viram espetáculo.
E é sempre assim,depois da tragédia,vem a exploração da mídia,vem a comoção,vem o choro. Culpa-se o mais fraco. Inventam uma nova lei. E daí ,vamos dormir confortados e esperar a próxima tragédia. E as tragédias vêm sempre embaladas para presente.
Depois dos funerais,esvaziam-se as manchetes,vem o esquecimento.
Mas um coração de mãe vai sangrar todo dia,até o fim dos tempos.

Marcos Teles.

Saturday, January 26, 2013

HIP H´ÓPERA!




Foto:Internet




   Diziam que Santa era uma mulher perturbada. Contam que desde pequena sonhava com anjos e via fantasmas. Santa jurava que tudo era verdade. Que falava mesmo com seres invisíveis. Talvez fosse coisa de infância, o que seria perfeitamente normal. Mas Santa carregou isso à vida toda.
   Quando moça, nas festas, arrancava as roupas e dançava nua. Às vezes parecia mesmo receber alguma entidade. Falava coisas em língua desconhecida e afirmava prever o futuro.
    Diziam que Santa era louca.
   Santa tinha vida de princesa, vivia em uma ilha de conforto e tranquilidade. Nunca saía de casa sem a companhia do motorista da família. Estudou no melhor colégio da cidade, viajou para muitos países.
    Mas Santa era triste. Sabia-se que algo a incomodava. Santa tinha a alma machucada. Ela buscava respostas...
   Um dia se apaixonou e foi embora com seu amado. Nunca disse pra onde iria. Anos se passaram sem alguém saber de seu paradeiro. 

  


   Santa despertou com um homem segurando sua mão. Levantou-se lentamente e olhou ao redor, sabia que nunca estivera antes naquele lugar. Perguntou àquele homem:
  - Como cheguei até aqui? Onde estou?
  O homem sorriu e abriu os braços apontando às pessoas em uma festa.
   O homem ofereceu o braço para que Santa se apoiasse e foram caminhando em direção às pessoas.
   Juntaram-se a pequena multidão e as pessoas sorriam para Santa, tocavam em sua roupa, em seu cabelo, gostaram de sua presença ali. Ela se sentia bem, um pouco cansada, como se houvesse chegado de uma viagem. Sentia-se feliz, mesmo no meio de gente que nunca havia visto antes.
   Santa cantou, dançou e não bebeu nada. Já não se preocupava em saber porque estava ali.
   O dia amanheceu e não havia mais ninguém, a festa havia acabado. O homem permanecia ao seu lado. Sempre com um sorriso nos lábios, porém, calado.
   Muitas pessoas estavam saindo de suas humildes casas. E eram casas sem rebôco, sem pintura. O esgoto correia a céu aberto, as crianças correndo para irem à escola.Poucos homens apressados para irem ao trabalho e mulheres esbaforidas. Santa perguntou ao homem:
   - Quem são eles? E quem é você?
   E enfim, ela ouviu pela primeira vez a voz daquele homem:
   - Esse é o povo! E eu sou seu companheiro de viagem - respondeu o homem. - e esse povo é gente que trabalha duro, que quer trabalhar e nem sempre pode. Essa gente se levanta antes do sol nascer. Esse é o povo e estão por todos os cantos. Amontoados, esquecidos, humilhados, mas muitas vezes com o pouco que têm conseguem ser felizes. Porque a única coisa que podem repartir entre si é a alegria.
   - Como podem levar uma vida tão dura? E de qual viagem você está falando? Santa perguntou curiosa.
   O Homem calmamente respondeu:
   - Somos companheiros de viagem, de uma viagem que faremos por nossos diferentes mundos. Esse é meu mundo, um mundo que você não conhecia. Te apresento a realidade ,seja bem-vinda!

   Santa não entendeu nada do que o homem lhe disse. Estava vivendo mais um daqueles sonhos que lhe eram corriqueiros, pensou.
   Os dois de braços dados caminhavam por aquele lugar, Santa olhava com tristeza para as pessoas, eram tão pobres... Sentia sua alma doer novamente.
   Atravessaram ruas enlameadas, cruzavam com ratos e insetos no trajeto. Santa sentia o odor de podre que exalava da terra.
  O homem olhava detalhadamente o semblante de Santa cada vez que se deparavam com algo que a deprimia.
   Um menino com uma ferida no rosto se aproximou e pediu um trocado. Com certeza ela lhe daria se estivesse com sua bolsa.
   Eles continuavam a caminhar, o homem ia lhe apontado às coisas do lugar. Um carro velho anunciava a compra de ferro-velho ou trocava bateria de carro por maçã do amor. Outro carro anunciava as promoções de um super mercado.

  Mesmo com tantas dificuldades aquele lugar era cheio de vida e nada parecia familiar para ela.
  Ela se assustou quando viu alguns rapazes que corriam beco adentro. Atrás deles homens fardados vinham com revólveres nas mãos. De repente ouviram-se pancadas, gritos de dor e muitos tiros. Os corpos dos rapazes ficaram no chão, jorrando sangue...
   - Cena comum por aqui. - disse o homem à Santa.
   Santa e aquele homem sentaram-se. Santa chorou.

   Outros rapazes fumavam crack e maconha na escadaria que dava acesso para duas ruas. Tragavam e riam. Pessoas se aproximavam timidamente, deixavam algum dinheiro e levavam um pouco de droga, outros consumiam ali mesmo. Fumavam ou cheiravam, depois iam embora, mas em pouco tempo estavam de volta buscando mais.
   Santa e o homem apenas observavam. Levantaram-se novamente e continuaram a caminhar por ali.
   Santa quis gritar quando viu os funcionários de uma empresa de energia elétrica cortarem todos os fios que levavam luz àquele lugar. Os homens riam, gritavam grosserias para as mulheres que desesperadas pediam pelo amor de deus. Mulheres que diziam que tinham bebês em casa, que o pouco que havia na geladeira iria estragar.

   E assim corria o dia. Santa via bares cheios de homens saudáveis e ônibus lotados de mulheres preocupadas. Observava crianças que voltavam mais cedo da escola, por que não encontraram professor. Mães que voltavam do posto de saúde, com seus filhos nos braços, não havia médicos para lhes atender...
   - Que mundo é este?- perguntava Santa, aflita.
   - O mundo real. - respondia novamente o homem.
   - Não sabia que isso existia. -afirmava com remorso.
   -Você não tem culpa, sempre te esconderam isso. Pra te proteger talvez... Mas acredite, as pessoas se acostumam com o sofrimento. O maior problema são os que lucram com a dor dos outros. As pessoas falam de céu e de inferno, acham que os dois estão em lados opostos, mas não, eles estão lado a lado. Apenas um cordão de força invisível separa o céu do inferno. Você viveu esse tempo todo no céu, estas pessoas estão no inferno.
    O homem fez um silêncio e segurando Santa pela mão seguiu em frente.

   Santa e o homem continuavam a caminhada e ela se deparou com uma casa em que havia muitas crianças na porta. As crianças sorriram quando viram alguns jovens desembarcarem de um carro. Santa achou estranho, se reconheceu naqueles jovens, percebeu que eram gente de seu mundo.
   - O que eles fazem aqui?
  - Eles vêm doar um pouco do tempo e do amor que sentem pelas pessoas. Explicou o homem.
   - Então são todas boas pessoas?
   - Nem todos do seu mundo que vêm ajudar fazem por amor ou caridade. Muitos fazem por dor na consciência ou por lucro fácil.- respondeu ironicamente o homem.


   Caminharam o dia inteiro, Santa não sentia nem fome, nem sede, nada...
   Santa sentia vontade de saber por que o mundo era tão triste e desigual, porque pessoas viviam de forma tão diferentes. Sempre aprendera que havia apenas um Deus e que todos os seres eram seus filhos. Mas que Deus era este?Que separa as pessoas?Que Deus era este que permite que um homem humilhe o outro?

   A noite começava a cair e Santa fechou os olhos por um instante. Quando os abriu novamente se assustou. Estavam parados numa esquina de ruas sem saída. Ruas que não levavam à lugar algum.
   - Onde estamos agora?-perguntou assustada.
   - Podemos dizer que foi onde toda sua vida começou, aqui é onde fica o cordão que divide o céu e o inferno - disse-lhe o homem. - você se lembra de quando era criança?
   - Sim. Eu nunca fui feliz.
   - Eu sei. Sei que também sempre sofreu, mas nunca soube por que sentia tanta melancolia. Vou te contar - o homem colocou a mão sobre os ombros de Santa e continuou - você nunca entendeu por que sonhava com lugares e pessoas que nunca havia conhecido. Também nunca entendeu porque via o futuro, porque sabia quando as pessoas iriam morrer e quando as tragédias iriam acontecer. Você nunca entendeu porque te chamavam de louca. Você falava com os anjos, lembra? Você nunca entendeu sua vida, por isso estamos aqui.

   Santa ouviu calada e imagens foram tomando conta de sua mente. Agora ela estava vendo seu passado. Estava vendo Paris iluminada numa noite de sábado. Santa agora via as lojas cheias de casacos de pele em Milão. E eram muitas imagens e todas surgiam ao mesmo tempo. Uma confusão sem fim em seus pensamentos.
   De repente ela viu o homem, o mesmo homem que a acompanhava. Ele agora era uma criança e estava olhando pra ela sentada dentro do carro. Ela viu agora, que sua mãe fechou o vidro, quando o menino encostou pedindo uma esmola. Ela lembra das palavras de sua mãe: ”Sai daqui trombadinha”. Santa viu a cara faminta daquele menino, a cara que tem somente quem sente fome, a cara que só tem quem tem fome de justiça.E ela se lembrou do instante em que o menino levantou a camisa mostrando a barriga faminta, e o segurança de dentro do carro, acertou um tiro naquela criança. Um tiro tão covarde que até hoje continua ecoando em seu coração.

   Santa começava a juntar as coisas, agora ela sabia que sofria a dor do mundo. Sabia que poderia ter feito algo para transformar um pedaço do mundo. Santa não era louca, sofria por amar os homens.


   Santa olhou nos olhos do homem e falou:
   - Você é um anjo.
   -Você também é um anjo.
   - E como se vira anjo?
   - Quando a gente morre.
   - Então estou morta!Quando aconteceu?
   - No dia em que você sentiu tanta pena de si mesmo e se cortou com cacos de um vidro de colônia.

   Santa olhou ao redor. Não sorriu, não chorou, apenas olhou e perguntou ao seu companheiro de viagem:
   - E agora, pra onde iremos?
   - Por aí, vamos conhecer um mundo que pode ser de todos.
   - Esse mundo existe?
   -Você vai descobrir. Vamos!


                                                                       Fim

Saturday, January 19, 2013

Trecho do Livro


Trecho do livro:

"Hoje me orgulho de minhas mãos calejadas, de cada ruga que trago no rosto, das marcas nas costas e da dignidade com que me propus um dia, sob o azul do céu, apesar de tudo, tocar minha vida em frente.
Hoje também me emocionei muito ao lembrar de minha mãe, que mesmo sem nenhuma instrução, apenas com a sensibilidade que só as mães têm, disse-me certa vez durante uma chuva de verão, que para cada pessoa no mundo foi concedido o direito a um pote de ouro. E que este pote está no final do arco-íris. Por isso na vida temos que ser pacientes, porque tudo tem seu tempo. E se a gente quiser pegar nosso pote de ouro, temos que aprender a esperar o sol abraçar a chuva."

Friday, January 04, 2013

Lia 100121 - Meu Próximo Livro!

Foto internet

Trechos :

“... as crianças com bandeirinhas nas mãos olhavam pra cima, observando os aviões que iriam trazer nossos heróis. Mas naquela hora, já eram os alemães cruzando o céu da Polônia...”.
"Lia Goldstein"

Lia 100121


Um trecho.


- Era 30 de agosto de 1939, foi o dia em que começou a Segunda Guerra mundial, para nós crianças polonesas, foi uma festa, acreditávamos, no poder bélico do bravo exército polonês, o rádio afirmava que a Polônia rapidamente libertaria o mundo, destruindo Adolf Hitler, estávamos preparados para uma grande festa cívica,

prontos para homenagear nossos heróis nacionais. Mas mentiram para o povo polonês, nosso exército já havia sido derrotado, a Alemanha já marchava sobre a Polônia, um dia de batalha, foi o que restou de consolo. Eu tinha 14 anos e já entendia muitas coisas, fui bem-nascida, tinha tido até ali uma educação privilegiada para alguém de minha idade e até para os padrões europeus daquela época, com pouca idade eu falava razoavelmente inglês, francês e alemão por influência de minha mãe professora de literatura e que viveu muitos anos em Paris.
Eu também já havia ido há varias cidades da Europa tínhamos parentes espalhados por vários países.
Mas pouco tempo depois tiraram todos os judeus de suas casas, amontoaram todos em guetos. Essa é uma parte triste da história do meu povo e da humanidade que todos já sabem, mas o que posso garantir è que o povo judeu sabia que algo poderia ser feito, mas o papa Pio XI foi corrompido pelo dinheiro dos nazistas e fez de tudo para não deixar que a Polônia pudesse se defender, o Vaticano agiu assim; aos nazistas tudo, aos judeus isolamento ou extermínio.
Durante a invasão alemã minha família tentou fugir, fomos denunciados pelos “volksdeutsche” - alemães – poloneses, eles conviviam conosco, mas descobrimos que nos odiavam por sermos judeus.
Fomos jogados no gueto de Varsóvia e lá ficamos muito tempo, foi sofrido demais, mais dolorido e mais desumano do que contam os historiadores, só quem sobreviveu aquele horror sabe o que foi um gueto.
Numa manhã os soldados da SS chegaram e foram mandando todos para fora, os judeus seriam levados, para Auschiwitz, para um campo de concentração.
Os soldados nos empurravam para dentro dos vagões, algumas pessoas eram pisoteadas e morriam ali mesmo, quando um vagão entupia de gente, eles atiravam e matavam muitos para que sobrasse mais espaço.
Com fome e com frio seguimos para o inferno, muitos morreram dentro dos vagões.
Quando chegamos ao inferno os demônios nos arrastavam para fora do trem, nos colocavam em fila e iam fazendo uma “seleção”.