Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Friday, December 06, 2013

Sob o Azul do Céu -Trecho




Entendi o porquê de tanta gente e tanta correria, e por que todos tinham tanta pressa, o mercado iria fechar mais cedo, era véspera de natal e todo mundo ali precisava chegar em casa pra não perder a festa.Mas eu não tinha pressa, eu não sabia o que realmente significava o natal, minha mãe dizia que foi o dia em que Cristo nasceu.Mas para mim era um dia como outro qualquer, sabia que as crianças ganhavam presentes no natal. Lá em casa não ganhávamos nada. Na vila também ninguém ganhava nada. A não ser quando as eleições estavam próximas, aí chegavam uns homens de gravata, com carros cheios de bolas, carrinhos e bonecas. Eles mandavam as crianças fazerem uma fila e iam entregando um a um. Mas os brinquedos eram tão ruins, que as crianças mal começavam a brincar e as bonecas perdiam os braços, as pernas, os carrinhos perdiam as rodas e as bolas eram de um plástico tão fino que pareciam balões de aniversário. Depois os homens de gravata faziam um discurso, ficavam emocionados e prometiam voltar em breve.Eu nunca os esperei.
Até que tive sorte, escolhi o dia certo pra começar a trabalhar ali no Mercadão.Carreguei várias sacolas, as senhoras eram simpáticas, ganhei um bom dinheiro de gorjetas e no final do dia, até frutas boas eu levaria pra casa.
Entrei no ônibus de volta pra casa. Agora estava menos cheio, tinha até lugar pra escolher.Sentei lá no fundo, encostei a cabeça no vidro e fui olhando o caminho de volta. Lembrei do presépio, dos enfeites de natal.  E que Papai Noel era gordo, sorridente e tinha olhos azuis.E nunca, nunca apareceu lá em casa.