Miltinho eu
gostávamos mesmo era de prestar atenção às conversas dos homens adultos.
Achávamos que o tempo passava devagar para nós. E que nunca, nunca iríamos ser
como todos aqueles homens do bairro.
Tínhamos certeza de que todos eles eram
felizes e donos de suas vidas. Acreditávamos que eles sabiam de tudo. Que eles
eram donos de todos os segredos. Falavam
sobre mulheres, descreviam com maestria, tudo o que faziam quando estavam
sozinhos com elas.Miltinho e eu,fingíamos não os escutar.Mas estávamos sempre
de ouvidos atentos.
Verinha era a moça
mais simpática do bairro. Também era a mais boazinha. Verinha vivia de fazer favores.
Todos os dias fazia um favor para alguém. Só não entendíamos porque Verinha só
fazia favores para os homens. Todos! Todos mesmo, sempre procuravam Verinha.
Verinha era muito querida. Sempre que
entrava em algum bar, os homens já a abraçavam com entusiasmo. Alguns lhe
passavam a mão no rosto, nos cabelos e outros até lhe davam tapinhas na bunda.
Verinha sentia muito frio. Mesmo quando
estava muito quente, ela sempre estava agarrada a algum dos homens do bairro. Ela
sempre pedia para que alguém a esquentasse.
Os homens a chamavam de Verinha do Povão!
As mulheres de nosso bairro não gostavam
tanto de Verinha...
Miltinho e eu decidimos descobrir que favores
eram aqueles que Verinha fazia. Depois de ouvir o Aníbal cochichar nos ouvidos dela,
que precisava de um favor... Seria às sete da noite, na casinha ao lado do bar
do Pedrão dos Cavalos.
Vimos quando o Aníbal levou Verinha para
dentro da casinha ao lado do bar do Pedrão dos Cavalos. Miltinho e eu nos
aproximamos e olhamos pelo vitrô...
Um dia,enquanto pegava as revistas de mulheres
nuas que meu tio escondia,descobri uma caixa repleta de pequenas latinhas. Não
dava para saber o que era, estava tudo escrito em chinês.
Quando comentei com Miltinho ele deu logo um
jeito de descobrir qual seria a utilidade daquelas latinhas.
Ele disse que ouviu Seu Toninho falar com o
Aníbal que a "tal" latinha, guardava uma pomada mágica. A pomada que
conquistava as mulheres.
Miltinho e eu, sentados no barranco da "Rua
de Cima", segurávamos as latinhas nas mãos... Nós éramos apaixonados pela
Cleópatra do filme...
Miltinho
me convenceu a pedirmos um favor para Verinha. Juntamos todas nossas pequenas economias.
Passamos semanas sem comprar doces e tubaína. Enchemos vários cofrinhos da
Poupança Haspa.
No dia em que falamos com ela, Verinha
ficou reticente, disse que éramos muitos crianças e que tinha medo que
contássemos para alguém. Ela mudou de ideia quando viu os seis cofrinhos
cheios...
No dia combinado, Miltinho e eu pegamos
várias latinhas de pomada chinesa do meu tio.
Quando chegamos à casinha ao lado do bar do
Pedrão dos Cavalos, Verinha já estava lá. Sentada na beira da cama, nos mandou
tirar as roupas. Estávamos tímidos, mas ela nos convenceu tirando a própria
blusa e ficando somente de sutiã. Verinha nos ofereceu um pouco de conhaque
Dreher para perdermos a timidez.
Miltinho
e eu estávamos em pé, completamente nus na frente de Verinha. Ela passou as mãos
em nossos corpos e depois levou as mãos ao nariz.
Verinha desatou a gargalhar. Ela gargalhava,
gargalhava...
Miltinho
olhava para mim, eu olhava para Miltinho e Verinha gargalhava como se fosse
explodir.
Verinha diminuiu o ritmo de sua risada quando
percebeu nossa cara de vergonha. Vestindo a roupa e nos devolvendo os cofrinhos
ela nos ensinou:
- A
pomadinha chinesa, não é para passar no corpo todo seus bobos... É pra passar
só no pinto!
Naquele instante, perdemos um pouco de nossa
inocência...