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Contos
Eróticos Infantis
O
Homem da Roupa Verde Que Encantava Prostitutas
Nós humanos, passamos a vida inteira
tentando entender como somos, o que somos e como e por que o tempo passa. E
tentamos nos aceitar.
No nosso caso não havia muito o que entender,era
só aceitar. Para Miltinho e eu, o tempo também passou...
Agora, éramos dois rapazolas e eu estava
indo para o meu primeiro dia de emprego. Emprego que Miltinho arrumou para mim.
O trabalho era em uma empresa de mala direta, nosso trabalho era colocar as
cartas nos envelopes e levar aos correios. Confesso, era divertido. Éramos uma
turma de jovens de vários bairros da cidade e trabalhávamos apenas três dias
por semana.
Naquele velho edifício do centro da cidade, no
mesmo andar em que envelopávamos as cartas, havia um escritório de contabilidade,
lá trabalhavam algumas pessoas, dentre elas, uma mulher jovem chamada Ester, uma
loira que tinha um mau hálito dos infernos, um rapaz careca e mal humorado e um
velhinho bem vestido e muito educado, Seu Henrique.
Com tantos moleques trabalhando juntos, era
inevitável a algazarra, a zoeira e a diversão. Depois de algumas semanas, Seu
Henrique passou a visitar nossa sala. Ficava na porta ,nos observando,sorria. Ele
se divertia também.
Seu
Henrique tinha a mania de esfregar as mãos, era a forma de demonstrar excitação,
contentamento, mas Miltinho ficava encucado com Seu Henrique:
- Marquinhos, esse velho é bicha!
-Acho que não. Ele é bacana. Deve ser o
jeito dele, ele é quieto.
Miltinho
insistia em tentar me convencer:
-
Marquinhos, olha só. Esse velho só anda vestido com roupa chique, sapato lustrando,
com essa gravatinha borboleta, fica olhando pra gente, sorrindo e esfregando as
mãos.E é educadinho demais.
Miltinho repetia as mesmas palavras toda vez
que via Seu Henrique.
Ester, a jovem mulher, elucidou de uma vez
por todas as dúvidas. Ela ouviu um dos comentários de Miltinho, dizendo que
achava que Seu Henrique era homossexual. Ester chamou Miltinho e eu em sua sala
e nos contou:
-Eu sei que vocês ficam preocupados com o
jeito de Seu Henrique. Por favor, não tenham medo dele, ele é apenas uma
criança, envelheceu somente o corpo. Seu Henrique tem um ligeiro retardo
mental.
Nós ouvimos atentos a explicação de Ester, Miltinho
me olhava e demonstrava remorso. Foram tantas as ofensas veladas ao velhinho...
Nossos corações doeram...
Enquanto Ester falava conosco, Seu Rômulo
entrou na sala. Seu Rômulo era o irmão mais velho de Seu Henrique e dono do
escritório de contabilidade. Seu Rômulo ajudou Ester a terminar a explicação:
-Eu não pude deixar de ouvir a conversa, mas
só pra encurtar, vou dizer uma coisa pra vocês, meu irmão nunca se sentiu tão feliz.
Ele nunca conviveu com outros jovens. Henrique tem um tumor no cérebro desde
que nasceu, ficou com esse retardo e teve um trauma quando perdemos nossa mãe.
Miltinho e eu apenas escutávamos e Seu
Rômulo nos disse mais:
- Meu irmão, tem muito apreço por vocês. Aproveitem
a amizade dele. Ele está com sessenta e cinco anos, não tem muito tempo.
Seu Henrique chamava qualquer pessoa, de
qualquer idade de senhor ou senhora. Era extremamente educado, inteligente, um ser
absolutamente doce. Usava roupas finas, feitas sob medida pelos melhores
alfaiates da cidade. Amava livros e filmes. Pela falta de companhia nunca saía
de casa.
Seu Henrique gostava de usar roupas verdes e
isso nos fazia brincar e deixá-lo apavorado:
- Seu Henrique! Se o senhor passar na frente
da pastelaria do chinês com essa roupa verde, eles vão cortar o senhor e servir
para os clientes, viu? –Miltinho gostava de chateá-lo.
-
É perigoso mesmo senhor Marquinhos? Seu Henrique me perguntava.
-
Claro que é Seu Henrique. O senhor acha mesmo que o chinês compra toda aquela
verdura? Eu também me divertia com a conversa.
O fato é que Seu Henrique abandonou os ternos
verdes, os sapatos de cromo alemão, a gravata borboleta e passou a se vestir
como nós.
Nós aprendemos a entender como seu Henrique pensava.
No trabalho, era competente, compenetrado, assíduo e pontual. Quando se juntava
a nós, era como um adolescente, sempre querendo saber coisas novas. Coisas que
um homem aos sessenta e cinco anos ainda não havia vivido. Seu Henrique tinha
pressa em aprender, tinha a necessidade de conhecer o mundo em que os garotos
de minha idade viviam.
Miltinho resolveu dar um presente para Seu Henrique,
nós o levaríamos para sair conosco, à noite, pelo centro da cidade. Íamos
levá-lo ao cinema, aos bares e aos inferninhos.
Passamos dias combinando tão insano ato, Seu
Henrique estava ansioso, preocupado em como fugir de casa em um sábado a noite,
sem que ninguém o visse saindo e chegando.
Tudo deu certo.
Encontramos seu Henrique no sábado às sete
da noite na Avenida São Luiz. Ele estava elegante como sempre. E feliz como
nunca...
Fomos direto para a boate Clube de Paris, onde
nosso amigo Gérson era segurança. Pedimos cerveja e ficamos olhando as moças
fazerem seus shows.
-Seu Henrique?- Miltinho perguntou - Quer
beber?
-Não posso!
- Quem falou que o senhor não pode?Miltinho perguntou novamente.
- Quem falou que o senhor não pode?Miltinho perguntou novamente.
-Meu pai! Respondeu seu Henrique.
-Mas seu pai morreu faz tempo! Pode beber, ele
não está vendo e ninguém aqui vai falar pra ele. Não é Marquinhos?
Miltinho foi convincente. E eu confirmei
balançando a cabeça e rindo escondido.
Seu
Henrique bebia aquele copo de cerveja e sorria. Sorria extasiado, como um
condenado a morte, que no último instante recebeu o indulto.
No outro sábado Miltinho resolveu aumentar a
loucura e a irresponsabilidade. Levaríamos seu Henrique ao 69,o bordel mais
famoso e fuleiro da cidade.
- Miltinho, você é doido? Levar o Seu
Henrique na zona? Eu perguntava preocupado.
- Calma Marquinhos, calma! Deixa o velhinho
se divertir, ele ainda é virgem! -Miltinho gargalhava - Seu Henrique precisa
trocar o óleo!
No dia fatídico chegamos ao prédio da Rua
dos Andradas, um lugar estranho, homens que entravam e saíam. Todos preocupados
em não serem vistos, descobertos. Nas escadas, mulheres seminuas convidavam
para um momento de prazer.
Miltinho já conhecia bem ali, fomos subindo
até um andar intermediário onde havia um pequeno bar. Pedimos cerveja e
resolvemos servir conhaque para Seu Henrique. Ele adorou.
Ficamos ali, observando o movimento. A todo
instante as mulheres se insinuavam e nos convidavam para um programa. Uma
mulher madura se aproximou de nós e convidou Seu Henrique:
- Oi gato!Vamos brincar?
Seu Henrique nos olhou de um jeito engraçado,
ficou confuso com a pergunta da prostituta e nos perguntou:
- Os senhores acham que posso brincar com
ela?
- Claro! Estamos aqui pra isso, Seu Henrique.
Explicou-lhe Miltinho.
Seu Henrique ainda confuso perguntou para a
mulher:
- A senhora quer brinca de quê?
- Brincar de quê gato? Brincar de fazer
neném!
A prostituta saiu do quarto com o rosto sereno,
parecia muito mais jovem do que havia entrado. Seu Henrique sorria e esfregava
as mãos.
Tudo correu em paz. Voltamos para casa, Seu
Henrique estava encantado com as luzes da madrugada, estava encantado com mais uma
noite que estava chegando ao fim.
Seu Henrique conheceu quase todos os
prostíbulos do centro da cidade. Conheceu cada cinema e teatro de striptease. Foi
para o quarto com muitas mulheres.
Foram meses mágicos. Seu Henrique aprendeu
conosco o que era perdição e nós aprendemos com ele a maneira que nos salvaria
da miséria do mundo. Seu Henrique não tinha medo de caminhar pelas ruas imundas
e fedorentas, não tinha preconceito em se relacionar com a ralé. Ele contava
lindas histórias, muitas delas retiradas dos livros que lia e dos filmes que assistia,
mas muitas da lindas histórias surgiam de sua mente inocente. Ele nos contou
sobre sua doença, sobre o pouco tempo que tinha pra viver, sobre o trauma por
ter visto na infância sua mãe se afogar.
Seu Henrique nos falou de sua namorada, que
ela morava no mar e vinha visitá-lo e que, um dia ficariam juntos para sempre.
Seu Henrique nos falava com imensa tristeza que
quando sentia dores de cabeça tinha que ficar quieto, porque aquele poderia ser
seu último instante. Seu Henrique nos contou que as dores que chegavam como
choques em sua cabeça, estavam aumentando.
O aviso de luto na porta do escritório de
contabilidade nos pegou de surpresa.
Dias depois Seu Rômulo nos deu a triste notícia.
Seu Henrique desapareceu. Foi visto pela última vez em frente ao mar no Guarujá.
Uma pessoa relatou que viu um velhinho vestindo um lindo terno verde, usava uma
gravata borboleta, calçava brilhantes sapatos pretos e carregava nas mãos um
enorme buquê com maravilhosas rosas amarelas. A pessoa relatou que o velhinho
parecia esperar alguém, pois a todo instante olhava o relógio,até que ele
gesticulou,abriu os braços e como se segurasse na mão de alguém foi
desaparecendo mar adentro.
Tempos depois encontramos a primeira mulher
que levou seu Henrique para o quarto, ela estava trabalhando em uma loja de bijuterias
na Rua Vinte e Cinco de março. Nos contou que abandonou a profissão depois que
saiu do quarto com seu Henrique naquela noite.Nos contou que ele pediu pra que
ela apenas se deitasse ao seu lado,que fechasse os olhos, ela nos disse que ele
lhe contou lindas histórias. Afirmou que enquanto ele lhe contava aquelas
lindas histórias, era como se estivesse encantada. Falou que ouvia e parecia
estar em cada uma daqueles lugares que o velhinho narrava. Que quando acordou
se deu conta de que aquele não era seu lugar.
Descobrimos que Seu Henrique nunca teve
relações sexuais com nenhuma daquelas mulheres. Seu Henrique as amava, amava os
seres humanos e os entendia, sentia pena da miséria em que vivia cada uma delas.
E ele também as salvou.
Miltinho e eu de vez em quando, usávamos
roupas verdes, passávamos correndo em frente a pastelaria do chinês na Ladeira
Porto Geral,para que ele não nos cortasse e servisse para seus clientes.