Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Wednesday, November 02, 2016

Análise Direta: Marcos Teles

O escritor e músico Marcos Teles fala sobre  o livro Palestra Lágrimas Futebol Clube e vários assuntos no Programa Análise Direta.

Monday, October 17, 2016

XXII Brooklinfest 2016

Escritor Marcos Tecora Teles do Capão Redondo Zona Sul da Cidade de São Paulo estará nas ruas do Brooklin. Com obras publicadas na França e no Brasil.
Tema Bildung(formação).
X
XII Brooklinfest 2016 nos dias 22 e 23 de outubro celebrará a obra de Marcos Tecora Teles,escritor da Literatura do Capão Redondo.
Livros:
O azul do Céu Histórias das Ruas
Je suis Rio Editora Ana Caoana França
Palestra Lágrimas Futebol Clube
Os eventos do Brooklin realizados pela Associação do Brooklin criam alinhamento
entre pessoas e suas obras.A cultura brasileira com dimensão universal.


Luiz Delfino Cardia.

Sunday, October 16, 2016

Grandes Manipulações no Futebol - História Verídica



Grandes manipulações no futebol.Essa é uma das verídicas:

Em 1977 foi lançado pela Rede Globo o slogan “O CORINTHIANS VAI SER CAMPEÃO. A REDE GLOBO GARANTE!”.
Tratava-se de um torneio onde só participavam times que tivessem o nome de Corinthians e pela lógica só um time com esse nome seria campeão. Ao mesmo tempo, o Sport Club Corinthians Paulista, há vinte e três anos na fila, tinha um desempenho no Paulistão pra lá de incentivado pela arbitragem e, na final contra a Ponte Preta (time infinitamente superior), estranhamente teve seu centroavante Rui Rey expulso por Dulcídio Wanderley Boschilla no começo da partida. Dias depois, Rui Rey ouvia tocar a sirene do Parque São Jorge em sua homenagem, como reforço recém-contratado para a temporada de 1978. A história não mente.
Interessante lembrar este slogan, : "O CORINTHIANS VAI SER CAMPEÃO. A REDE GLOBO GARANTE!"
Texto internet.Resposta no blog do Odir Cunha.


Wednesday, August 24, 2016

Depois Daquele Beijo

Foto: Internet


Depois Daquele Beijo


   Hoje, exatamente hoje, faz vinte anos que vivo na mais completa escuridão. Provavelmente, minha história não seja tão especial e nem signifique muita coisa. Provavelmente, minha história seja igual à história de milhares de outras pessoas. Mas esta é minha história. E uma coisa eu posso afirmar; ninguém recebe o primeiro beijo da vida de uma garota e passa incólume pela vida.

   Depois de longos, turbulentos e tristes anos, voltei ao bairro onde nasci e vivi parte de minha vida. Fui visitar alguns amigos de minha família.
   Era uma tarde fria de agosto, um sábado. Fui recebida com afeto e percebi a comoção que causei nos amigos, ao chegar amparada por Billy, meu cão – guia. Depois dos abraços afetuosos e beijos emocionados, nos sentamos e tomamos café. Tudo como nos velhos tempos.

   Mas  a campainha tocou...
   Enquanto alguém foi atender ao portão, continuávamos conversando eufóricos e sorrindo alto.
   A voz daquela visita inesperada fez abrir uma porta no tempo. E era a mesma voz, a mesma voz melancólica do menino bonito e tristonho por quem me apaixonei um dia.
   Nosso reencontro foi como deveria ter sido, emocionante, repleto de arrependimentos e pedidos de desculpas. Tínhamos muito o que falar,mas também tínhamos muito o que calar.
   Ele quis saber de tudo o havia acontecido comigo em todos esses anos, quis saber como me sentia e eu não lhe escondi nada. Contei a ele que foi em uma tarde de sábado como aquela, onde ficamos sozinhos. Ali, naquela mesma casa, naquela mesma sala, ouvindo Van Morrison tocar na vitrola, que trocamos um beijo. Meu primeiro beijo. Eu lhe contei que foi ali, que uma garota aos catorze anos se apaixonou por um rapaz bonito e romântico. Eu o fiz lembrar que, depois daquela tarde eu lhe ligava perguntando; e agora? E ele sorria do outro lado da linha.
    Lembrei a ele que, depois daquela tarde de sábado,durante meses,todas as tardes de sábado foram mágicas,dançávamos colados e trocávamos beijos apaixonados.Sentávamos no tapete daquela sala,ele já adulto bebia vinho e eu bebia Coca- Cola.
   Eu contei a ele sobre minha tristeza. Sobre a humilhação na minha festa de quinze anos. Contei que contava os dias, ansiosa e insone, esperando o dia chegar para poder dançar com ele, eu queria dançar a valsa com meu príncipe. Mas ele não apareceu. Sem se despedir, desapareceu e nunca mais voltou. Não podia deixar de lhe contar sobre toda minha tristeza e decepção.
   Também falei que anos depois me casei com uma pessoa que quase acabou com minha vida. Eu falei que me casei com um homem que parecia me amar, mas só me trouxe dor e tristeza. Um homem violento e viciado. Um homem habituado apenas à boemia e aos prostíbulos. E não pude esconder que esse homem contraiu o vírus da AIDS e que por sorte ou sei lá, a única coisa que me passou foi sífilis e perdi completamente a visão. Talvez por piedade de mim, Deus o tenha levado pouco tempo depois.
   Contei sobre a perda de meus pais e que, desde então vivo quase só.
   Eu falava e ele só ouvia. Eu pedi para ver seu rosto com minhas mãos.Ele aproximou seu rosto do meu e lhe toquei a face.Era o mesmo rosto delicado,o mesmo perfume e o mesmo hálito que exalava vida.Eu toquei seu rosto e podia ver o passado,via as luzes das tardes ensolaradas.Eu tocava seu rosto e a mesma música chegava em meus ouvidos.Eu tocava seu rosto e nas pontas dos meus dedos ainda podia sentir a tristeza daquela alma doce,que por muito e muito tempo viveu atormentada pelo abandono na infância,pela pobreza e pela fome.Eu tocava em seu rosto e suas lágrimas escorriam por entre meus dedos e pude, enfim,saber que aquele menino bonito e tristonho também me amou um dia.
   Ele me contou que teve medo e fugiu de tudo, mas nunca se esqueceu daquela tarde de sábado. Ele também descobriu que ninguém dá o primeiro beijo da vida de uma garota e passa incólume pela vida.

   Hoje, também é sábado e minha sobrinha está me fazendo companhia. Ela vai passar o final de semana aqui em casa. Minha sobrinha não conhece toda minha história, mas ela ligou o som e colocou uma música pra tocar. ”Sweet Thing”, Van Morrison...


Saturday, June 25, 2016

Contos Eróticos Infantis - Com Chocolate nas Veias


Contos Eróticos Infantis
Com Chocolate nas Veias
Imagem:internet

Quando meu tio me levou para trabalhar em sua fábrica de sapatos femininos no Itaim - Bibi, muitas coisas mudaram em minha vida. Foi lá que aprendi, que às vezes precisamos  amadurecer antes da hora.
E foi lá também que conheci muitas pessoas bacanas. Com algumas daquelas pessoas, fiz amizades duradouras, com muitas outras sempre tive um pouco de receio de me aproximar.
Foi lá, na fábrica de sapatos de meu tio que me tornei quem sou.
Meu tio sempre foi muito generoso e também se encarregou de arrumar um emprego para Miltinho, na Esfiharia do Jaber, na Rua Tabapuã.
No edifício ao lado da esfiharia, morava Lili, uma menina gordinha, sorridente, simpática, de olhos castanhos e...linda!
Como eu já imaginava, Miltinho apaixonou – se platonicamente por ela. Durante meses, Lili era a única palavra que saía da boca de Miltinho.

Na fábrica de sapatos, uma das minhas responsabilidades era comprar materiais para a confecção dos calçados. Três vezes por semana, eu tinha que ir até a Rua Maceió comprar couros.
 Meu trajeto até o ponto de ônibus, era da Rua Bandeira Paulista até a Avenida Cidade Jardim, onde eu embarcava no Trólebus que subia a Rua Augusta.
Lili também tomava o mesmo ônibus e fazia o mesmo trajeto que eu. Acabamos ficando amigos. Lili fazia curso de fotografia no centro da cidade. Ela também ficou amiga de Miltinho.
Ainda me lembro do primeiro assunto ente Lili e eu. Conversamos sobre a notícia que mais se comentava naqueles dias. Naquela época, no início dos anos oitenta, muita gente desaparecia misteriosamente na cidade de São Paulo. No Itaim – Bibi, havia confirmações de que muitas garotas desapareceram sem deixar vestígios. A polícia dizia para as famílias que, provavelmente, elas haviam fugido com os namorados...

Uma das figuras mais estranhas que conhecemos no Itaim – Bibi foi Guido. Ele era o mestre chocolateiro da fábrica de chocolates, na Rua Joaquim Floriano. Guido não trabalhava todos os dias, ficamos sabendo que ele só trabalhava as noites em que formulava novas receitas para os bombons.
Na fábrica de chocolates, eram produzidos os melhores bombons do mundo. Nunca houve nada igual.
Logo descobrimos os dias em que Guido havia ido trabalhar. Assim que descíamos do ônibus na Avenida Nove de Julho, imediatamente, sentíamos o aroma que exalava das chaminés da fábrica de chocolates. Aquele cheiro inconfundível nos inebriava.

Guido era realmente um homem muito esquisito, parecia muito jovem, mas  ao mesmo tempo, também aparentava ser velho.Usava roupas pesadas e estava sempre vestindo um grande casaco preto.Usava cachecóis que lhe cobriam o pescoço e parte lhe escondia a boca.Guido também nunca retirava o chapéu.Parecia estar sempre tentando esconder alguma coisa.
Quando saía da fábrica, após seu turno de trabalho, ritualísticamente, ia tomar  café na padaria na Rua Doutor Renato Paes de Barros e ficava por lá, até o horário em que os alunos  saiam do colégio.Ele era conhecido dos jovens do bairro e gostava de conversar com eles,principalmente com  as garotas,todas,sem exceção,adoravam Guido.Ele sempre levava consigo,pacotes daqueles maravilhosos bombons.Quando chegava em gente ao colégio,era um alvoroço,as garotas já sabiam que ganhariam chocolate.

Miltinho não gostava de Guido, sempre que o via passar, comentava com  preocupação:
- Marquinhos... Marquinhos... Marquinhos, esse cara é louco.
- Que é isso, Miltinho? Deixa o homem em paz!
Miltinho insistia:
- Veja bem! Ele é jovem, usa essas roupas de idoso, todo estranho, não sei se você percebeu...
- Percebeu o quê?
- Ele vive com frio! E as mãos dele? Quando cumprimenta a gente, as mãos dele são geladas!
-Deve ser por causa da fábrica, lá tem muitas geladeiras.
-Marquinhos, na fábrica tem um monte de fogão gigante. Lá dentro deve ser um calor dos infernos.
Comecei a ficar encucado com Guido...

Miltinho esta cada vez mais apaixonado por Lili. Falava dos seus planos ao lado dela,chegava a imaginar a festa de casamento. Miltinho estava alucinado de amor e a todo instante me pedia opinião:
- Marquinhos, você acha que devo me declarar pra ela? Devo dizer que estou afim?
-Sei lá, você é quem sabe.
-Eu penso em falar pra ela, mas tenho medo.
-Ué! Medo do quê?
- E se Lili me der um fora? Vou perder a amizade dela. Você não acha melhor eu sofrer calado no meu canto e poder estar sempre perto dela, do que nunca mais poder vê-la?
Miltinho até que tinha alguma razão. Além do receio de perder Lili de uma vez por todas, ainda havia a diferença de classes. Lili era uma garota rica do Itaim- Bibi e ele, um garoto pobre do Capão Redondo.
Sempre soubemos que um garoto pobre do Capão Redondo era obrigado a sofrer calado.


Miltinho passou abertamente a odiar Guido, depois que o chocolateiro começou a galantear Lili. Todos os dias, Guido enviava bombons e bilhetes para Lili e ela parecia gostar de ser cortejada pelo chocolateiro.
Miltinho estava incomodado com aquela situação e ficava cada dia mais nervoso:
- Marquinhos!Vou matar esse cara!
Eu tentava lhe acalmar:
-Você está louco, Miltinho?Não tem nada demais, são amigos.
Miltinho se calava e eu sabia que sofria muito.


Ficamos profundamente entristecidos quando Suzi desapareceu. Suzi era uma garota bacana, ela trabalhava na loja da Levi´s na Rua João Cachoeira. Ela sempre nos ensinava sobre política. As pessoas diziam que, como tantos outros, Suzi havia sido presa pela ditadura.

Meses depois do desaparecimento de Suzi, fomos à festa de aniversário do Nego Teta, estávamos  animados,todos os nossos amigos compareceram,o pessoal do colégio,da Favela da Funchal e até o pessoal do Clube do Mé.Guido também estava na festa do Nego Teta.
Miltinho não se sentia confortável, estava encabulado e não tirava os olhos de Guido e Lili.
Guido falava ao ouvido da garota,ela sorria,parecia bem à vontade com a conversa do chocolateiro.
Vindo rapidamente em minha direção, Miltinho decidiu:
- Marquinhos, vou falar com ela, vou me declarar! Que se dane!
Miltinho atravessou o salão e foi até onde estavam Lili e Guido, chamou Lili em um canto, disse - lhe algo e voltou:
-Pronto! Falei pra ela.
- E o que ela disse?
- Que vai pensar...
A festa acabou naquele instante para Miltinho e eu, saímos do salão sem que ninguém nos visse. No caminho para o ponto de ônibus, resolvemos parar no Jack in The Box para comermos hambúrguer e tomarmos Coca-Cola, era uma maneira de esfriar a cabeça e aplacar um pouco da tristeza e Miltinho.
Mas aquela noite ainda estava longe de acabar...
Quando saíamos da lanchonete, vimos um casal que entrava na rua que dava para os fundos da fábrica de chocolates, reconhecemos Guido, que vinha segurando o braço de Lili.
Miltinho me puxou e me convenceu a seguir os dois.
Ainda de longe, observamos Guido e Lili entrarem na fábrica de chocolates. Depois de algum tempo em que os dois já se encontravam lá dentro, nos aproximamos da porta e encostamos nossos ouvidos para tentarmos captar qualquer barulho que pudesse vir lá de dentro.
Miltinho estava morrendo de ciúmes e sentia-se derrotado. Era nítido seu olhar de angústia e decepção.
O tempo passava e só ouvíamos o barulho de metais. De vez em quando escutávamos bem baixinho a voz de Guido sussurrando palavras ininteligíveis. Apuramos um pouco mais nossa audição e enfim, ouvimos claramente a voz de Guido, que falava  em um idioma que até então não conhecíamos.

Tentei convencer Miltinho  a sairmos daquele lugar, disse – lhe que aquilo era perder tempo, que não adiantava mais sofrer,que era melhor partir pra outra.
Miltinho já havia se convencido em irmos embora, Mas um grito de pavor nos congelou a espinha. Desesperada, Lili pedia socorro, gritava alto e chorava aterrorizada.
Miltinho e eu não tivemos dúvidas, começamos a gritar, chutar e tentar arrombar a porta.
Repentinamente, fez – se um brevíssimo silêncio e em seguida, ouvimos passos apressados se afastando lá dentro.

Do lado de fora, Miltinho  eu continuávamos tentando arrombar a porta da fábrica de chocolates.Pensei em pedir ajuda,mas a rua estava completamente deserta aquela hora da noite.Também pensei em ir até a delegacia,mas Miltinho achava que talvez não desse tempo de salvar Lili.
Miltinho raciocinava rápido e viu um pequeno vitrô sobre a pequena porta e me falou;
- Sobe nas minhas costas, vai!
Miltinho se abaixou, coloquei meus pés em seus ombros e pulei. Com muito esforço alcancei a borda do vitrô. Dei um soco com todas as minhas forças, o vidro se quebrou e me esgueirei para passar pelo vão ínfimo.
Caí dentro da fábrica de chocolates e abri a porta para que Miltinho também entrasse. Lá dentro, caminhamos por um pequeno corredor e acabamos dentro de uma grande cozinha, repleta de caldeirões fervendo leite e chocolate, máquinas e utensílios diversos. Sobre uma bancada, amarrada e nua, encontramos Lili.


A polícia foi até a casa onde Guido morava. Uma mansão sombria na Rua Mário Ferraz. Lá, encontraram um verdadeiro tesouro. Obras de artes de valor incalculável. Quadros tão antigos quanto se podia imaginar, impossível  datar quando foram pintados,talvez milênios.
O que realmente chamou a atenção da polícia foi a quantidade das belas estátuas espalhadas por toda a casa. Estátuas esculpidas com chocolate e em tamanho natural. Elas exalavam aquele aroma inconfundível  que saía das chaminés da fábrica.
Um caminhão foi chamado para transportar tudo o que fora  apreendido na  casa de Guido.
Quando começaram a carregar as estátuas, a surpresa foi aterradora, as estátuas eram feitas para esconder os cadáveres das garotas desaparecidas.

 Ficamos ainda mais chocados e assustados quando soubemos a forma com que o chocolateiro assassinava suas vítimas. Guido colocava entorpecentes - que ele  mesmo sabia preparar - dentro dos bombons que oferecia para as garotas que escolhia como vítimas.
Guido levava as garotas já dopadas para a fábrica de chocolates, depois de violentá-las e cometer todo tipo de crueldade, usava a máquina de filtrar o leite para lhes retirar completamente todo o sangue. Depois, injetava  nas veias das meninas,calda quente de chocolate. Com o sangue das garotas, ele produzia o ingrediente secreto que colocava em seus bombons.


O tempo passa mais rápido, quanto mais vamos amadurecendo.
Para decepção de Miltinho, Lili foi morar na Alemanha e não tem intenção de voltar.
Guido desapareceu, não deixou nenhum rastro.


Ah! Quase me esqueci de falar sobre Sara...
Sara era neta do judeu, dono da loja de couros, aonde eu ia três vezes por semana fazer compras. Miltinho conheceu Sara e claro, também ficou completamente apaixonado por ela.
Com Sara ele não quis perder tempo, em uma festa na casa do Nego Teta, Miltinho decidiu declarar seu amor infinito a ela. Preparou-se e foi todo confiante e com ar de conquistador experiente. Chegou perto da moça e não teve dúvidas, disparou:
- Sara, você é linda, eu te amo e estou afim de namorar contigo!
Ao ouvir a declaração de Miltinho, Sara, do alto de seus vinte e sete anos, não pensou duas vezes:
- Se enxerga moleque! Você acha que tenho cara de babá?

Miltinho e eu, até hoje, até hoje, odiamos chocolate.




Friday, June 03, 2016

Je Suis Rio

Vem aí!
Je suis Rio,antologia, lançado na França.Me sinto muito orgulhoso em fazer parte desta obra.No livro, um conto meu,Zé Azul do Rio de Janeiro.Além de mim,tem Ferréz,Marcelino Freire, Alexandre De Maio, entre outros autores!
Editora Anacaona.

Sunday, May 29, 2016

Um Mendigo, Um cigarro e Um Chope

Foto: Internet

Um Mendigo, Um cigarro e Um Chope

Aquela tarde de dezembro estava imensamente quente, o verão havia chegado com todo seu calor e majestade.
As ruas estavam vazias naquela tarde de domingo quando nos sentamos no Bar Brahma, na esquina da Avenida São João com a Avenida Ipiranga. Léa e Mauro, meus amigos, que quando vinham do interior, marcavam nossos encontros ali, no coração da cidade.
Os dois estavam mais calados que o habitual. Léa com seu jeito sempre aristocrático reclamava da crise, da queda nos investimentos, dos preços das roupas de grife e dos preços das passagens para a Europa, onde viajava de férias a cada seis meses.
Mauro estava preocupado com a queda do valor das ações, da baixa liquidez do mercado.
Eu apenas os ouvia, não entendia muito bem o significado daquelas conversas, meu mundo era outro. Eu era apenas um moço da periferia... apenas os ouvia.
Tomávamos Chope, comíamos porções das mais variadas e íamos deixando o tempo passar.
Mas naquela tarde foi diferente.
Meus amigos estavam mais calados do que de costume, cada um de nós absorto nos próprios pensamentos e não nos demos conta de que há tempos um mendigo nos observava. Ele estava ali o tempo todo, parado, com suas roupas esfarrapadas, uns trecos amarrados à cintura e calçava uma velha sandália que mal lhe cabia as solas dos pés.
Léa o viu e assustou-se, pensou em chamar a segurança, lhe acalmei dizendo que estávamos seguros. Estávamos sentados dentro do cercado que limitava o bar das avenidas.
O mendigo continuava lá, nos olhava atentamente, olhava o rosto plastificado de Léa, o rosto endurecido de Mauro e parecia desnudar nossas almas esfarrapadas e cansadas. Eu o olhei nos olhos e por um instante vi refletir a miséria que cada um de nós carrega. Ele nos olhava e nos tornava a pequenos.
Léa me pediu para que oferecesse um trocado àquele homem, para que ele nos deixasse em paz. O mendigo sorriu e caminhou lentamente em nossa direção, não podíamos mais escapar de sua presença incômoda. Ele se aproximava, não dava mais tempo de contê-lo. Léa parecia querer sair correndo dali, apavorada com a presença daquele andarilho.
Não deu tempo.
O mendigo se aproximou e surpreendentemente se apresentou:
- Boa tarde, senhora e senhores. Me chamo Sivaldo,sou viciado em drogas,mas não as consumo mais todos os dias. Não sou ladrão, nunca roubei e nem preciso. Não há nada mais para mim no mundo de vocês. Sou apenas um vagabundo, maltrapilho.
O mendigo nos calou com sua voz calma, serena e pacífica. Ele sabia que éramos pobres humanos, perdidos em nosso mundo egoísta, solitário e doente. Ele sorria pra mim, sabia que eu ainda tinha um pouco do que sobrou da minha própria infância, de alguma forma, me enxergou como igual e dirigiu a palavra a mim
- Irmão, posso te pedir um favor?
Eu permanecia mudo, apenas sorri e ele continuou:
- Irmão, sabe de uma coisa? Há muito tempo que vivo por estas ruas. Há muito tempo não me sinto gente, não me sinto humano. Sabe por quê? Porque as pessoas me fazem acreditar que não sou. Eu vi vocês aqui e pensei em pedir um trocado, um pouco de comida, mas eu quero me sentir gente, me sentir humano, sabe? Eu só quero um cigarro, desses, dos bons e um chope, o irmão pode pagar um pra mim?

O céu começava a ficar escuro, a tempestade se aproximava e o vento já varria as ruas do velho centro. Com um cigarro em uma das mãos e o copo de chope na outra, Sivaldo arrastava as pernas,como se desfilasse em uma escola de samba,fantasiado com suas roupas de mendigo. Gesticulava e seguia de olhos fechados, como se ouvisse uma bateria de escola samba que tocava um samba enredo divino.
Léa, Mauro e eu, acompanhávamos com nossos olhos incrédulos Sivaldo desaparecer perto do Boulevard.
Sentados de frente para a avenida,com os braços apoiados na pequena cerca,permanecemos em silêncio, tentando entender o que acabara de acontecer, o que tínhamos vivido naquele breve instante.
A chuva veio e me levantei para sair.
- Não vai esperar  a chuva passar? - me perguntou Léa.
A pergunta de Léa me fez lembrar que há tempos eu não percebia como era bonita uma tarde de chuva. Há tempos eu não caminhava na chuva. Quando criança me diziam que, andar e chorar na chuva nos lavava a alma.
Me despedi de meus amigos e atravessei lentamente as avenidas,deixei que as lágrimas chegassem.

Eu também precisava me sentir humano novamente, eu também precisava me sentir gente.