Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Saturday, June 25, 2016

Contos Eróticos Infantis - Com Chocolate nas Veias


Contos Eróticos Infantis
Com Chocolate nas Veias
Imagem:internet

Quando meu tio me levou para trabalhar em sua fábrica de sapatos femininos no Itaim - Bibi, muitas coisas mudaram em minha vida. Foi lá que aprendi, que às vezes precisamos  amadurecer antes da hora.
E foi lá também que conheci muitas pessoas bacanas. Com algumas daquelas pessoas, fiz amizades duradouras, com muitas outras sempre tive um pouco de receio de me aproximar.
Foi lá, na fábrica de sapatos de meu tio que me tornei quem sou.
Meu tio sempre foi muito generoso e também se encarregou de arrumar um emprego para Miltinho, na Esfiharia do Jaber, na Rua Tabapuã.
No edifício ao lado da esfiharia, morava Lili, uma menina gordinha, sorridente, simpática, de olhos castanhos e...linda!
Como eu já imaginava, Miltinho apaixonou – se platonicamente por ela. Durante meses, Lili era a única palavra que saía da boca de Miltinho.

Na fábrica de sapatos, uma das minhas responsabilidades era comprar materiais para a confecção dos calçados. Três vezes por semana, eu tinha que ir até a Rua Maceió comprar couros.
 Meu trajeto até o ponto de ônibus, era da Rua Bandeira Paulista até a Avenida Cidade Jardim, onde eu embarcava no Trólebus que subia a Rua Augusta.
Lili também tomava o mesmo ônibus e fazia o mesmo trajeto que eu. Acabamos ficando amigos. Lili fazia curso de fotografia no centro da cidade. Ela também ficou amiga de Miltinho.
Ainda me lembro do primeiro assunto ente Lili e eu. Conversamos sobre a notícia que mais se comentava naqueles dias. Naquela época, no início dos anos oitenta, muita gente desaparecia misteriosamente na cidade de São Paulo. No Itaim – Bibi, havia confirmações de que muitas garotas desapareceram sem deixar vestígios. A polícia dizia para as famílias que, provavelmente, elas haviam fugido com os namorados...

Uma das figuras mais estranhas que conhecemos no Itaim – Bibi foi Guido. Ele era o mestre chocolateiro da fábrica de chocolates, na Rua Joaquim Floriano. Guido não trabalhava todos os dias, ficamos sabendo que ele só trabalhava as noites em que formulava novas receitas para os bombons.
Na fábrica de chocolates, eram produzidos os melhores bombons do mundo. Nunca houve nada igual.
Logo descobrimos os dias em que Guido havia ido trabalhar. Assim que descíamos do ônibus na Avenida Nove de Julho, imediatamente, sentíamos o aroma que exalava das chaminés da fábrica de chocolates. Aquele cheiro inconfundível nos inebriava.

Guido era realmente um homem muito esquisito, parecia muito jovem, mas  ao mesmo tempo, também aparentava ser velho.Usava roupas pesadas e estava sempre vestindo um grande casaco preto.Usava cachecóis que lhe cobriam o pescoço e parte lhe escondia a boca.Guido também nunca retirava o chapéu.Parecia estar sempre tentando esconder alguma coisa.
Quando saía da fábrica, após seu turno de trabalho, ritualísticamente, ia tomar  café na padaria na Rua Doutor Renato Paes de Barros e ficava por lá, até o horário em que os alunos  saiam do colégio.Ele era conhecido dos jovens do bairro e gostava de conversar com eles,principalmente com  as garotas,todas,sem exceção,adoravam Guido.Ele sempre levava consigo,pacotes daqueles maravilhosos bombons.Quando chegava em gente ao colégio,era um alvoroço,as garotas já sabiam que ganhariam chocolate.

Miltinho não gostava de Guido, sempre que o via passar, comentava com  preocupação:
- Marquinhos... Marquinhos... Marquinhos, esse cara é louco.
- Que é isso, Miltinho? Deixa o homem em paz!
Miltinho insistia:
- Veja bem! Ele é jovem, usa essas roupas de idoso, todo estranho, não sei se você percebeu...
- Percebeu o quê?
- Ele vive com frio! E as mãos dele? Quando cumprimenta a gente, as mãos dele são geladas!
-Deve ser por causa da fábrica, lá tem muitas geladeiras.
-Marquinhos, na fábrica tem um monte de fogão gigante. Lá dentro deve ser um calor dos infernos.
Comecei a ficar encucado com Guido...

Miltinho esta cada vez mais apaixonado por Lili. Falava dos seus planos ao lado dela,chegava a imaginar a festa de casamento. Miltinho estava alucinado de amor e a todo instante me pedia opinião:
- Marquinhos, você acha que devo me declarar pra ela? Devo dizer que estou afim?
-Sei lá, você é quem sabe.
-Eu penso em falar pra ela, mas tenho medo.
-Ué! Medo do quê?
- E se Lili me der um fora? Vou perder a amizade dela. Você não acha melhor eu sofrer calado no meu canto e poder estar sempre perto dela, do que nunca mais poder vê-la?
Miltinho até que tinha alguma razão. Além do receio de perder Lili de uma vez por todas, ainda havia a diferença de classes. Lili era uma garota rica do Itaim- Bibi e ele, um garoto pobre do Capão Redondo.
Sempre soubemos que um garoto pobre do Capão Redondo era obrigado a sofrer calado.


Miltinho passou abertamente a odiar Guido, depois que o chocolateiro começou a galantear Lili. Todos os dias, Guido enviava bombons e bilhetes para Lili e ela parecia gostar de ser cortejada pelo chocolateiro.
Miltinho estava incomodado com aquela situação e ficava cada dia mais nervoso:
- Marquinhos!Vou matar esse cara!
Eu tentava lhe acalmar:
-Você está louco, Miltinho?Não tem nada demais, são amigos.
Miltinho se calava e eu sabia que sofria muito.


Ficamos profundamente entristecidos quando Suzi desapareceu. Suzi era uma garota bacana, ela trabalhava na loja da Levi´s na Rua João Cachoeira. Ela sempre nos ensinava sobre política. As pessoas diziam que, como tantos outros, Suzi havia sido presa pela ditadura.

Meses depois do desaparecimento de Suzi, fomos à festa de aniversário do Nego Teta, estávamos  animados,todos os nossos amigos compareceram,o pessoal do colégio,da Favela da Funchal e até o pessoal do Clube do Mé.Guido também estava na festa do Nego Teta.
Miltinho não se sentia confortável, estava encabulado e não tirava os olhos de Guido e Lili.
Guido falava ao ouvido da garota,ela sorria,parecia bem à vontade com a conversa do chocolateiro.
Vindo rapidamente em minha direção, Miltinho decidiu:
- Marquinhos, vou falar com ela, vou me declarar! Que se dane!
Miltinho atravessou o salão e foi até onde estavam Lili e Guido, chamou Lili em um canto, disse - lhe algo e voltou:
-Pronto! Falei pra ela.
- E o que ela disse?
- Que vai pensar...
A festa acabou naquele instante para Miltinho e eu, saímos do salão sem que ninguém nos visse. No caminho para o ponto de ônibus, resolvemos parar no Jack in The Box para comermos hambúrguer e tomarmos Coca-Cola, era uma maneira de esfriar a cabeça e aplacar um pouco da tristeza e Miltinho.
Mas aquela noite ainda estava longe de acabar...
Quando saíamos da lanchonete, vimos um casal que entrava na rua que dava para os fundos da fábrica de chocolates, reconhecemos Guido, que vinha segurando o braço de Lili.
Miltinho me puxou e me convenceu a seguir os dois.
Ainda de longe, observamos Guido e Lili entrarem na fábrica de chocolates. Depois de algum tempo em que os dois já se encontravam lá dentro, nos aproximamos da porta e encostamos nossos ouvidos para tentarmos captar qualquer barulho que pudesse vir lá de dentro.
Miltinho estava morrendo de ciúmes e sentia-se derrotado. Era nítido seu olhar de angústia e decepção.
O tempo passava e só ouvíamos o barulho de metais. De vez em quando escutávamos bem baixinho a voz de Guido sussurrando palavras ininteligíveis. Apuramos um pouco mais nossa audição e enfim, ouvimos claramente a voz de Guido, que falava  em um idioma que até então não conhecíamos.

Tentei convencer Miltinho  a sairmos daquele lugar, disse – lhe que aquilo era perder tempo, que não adiantava mais sofrer,que era melhor partir pra outra.
Miltinho já havia se convencido em irmos embora, Mas um grito de pavor nos congelou a espinha. Desesperada, Lili pedia socorro, gritava alto e chorava aterrorizada.
Miltinho e eu não tivemos dúvidas, começamos a gritar, chutar e tentar arrombar a porta.
Repentinamente, fez – se um brevíssimo silêncio e em seguida, ouvimos passos apressados se afastando lá dentro.

Do lado de fora, Miltinho  eu continuávamos tentando arrombar a porta da fábrica de chocolates.Pensei em pedir ajuda,mas a rua estava completamente deserta aquela hora da noite.Também pensei em ir até a delegacia,mas Miltinho achava que talvez não desse tempo de salvar Lili.
Miltinho raciocinava rápido e viu um pequeno vitrô sobre a pequena porta e me falou;
- Sobe nas minhas costas, vai!
Miltinho se abaixou, coloquei meus pés em seus ombros e pulei. Com muito esforço alcancei a borda do vitrô. Dei um soco com todas as minhas forças, o vidro se quebrou e me esgueirei para passar pelo vão ínfimo.
Caí dentro da fábrica de chocolates e abri a porta para que Miltinho também entrasse. Lá dentro, caminhamos por um pequeno corredor e acabamos dentro de uma grande cozinha, repleta de caldeirões fervendo leite e chocolate, máquinas e utensílios diversos. Sobre uma bancada, amarrada e nua, encontramos Lili.


A polícia foi até a casa onde Guido morava. Uma mansão sombria na Rua Mário Ferraz. Lá, encontraram um verdadeiro tesouro. Obras de artes de valor incalculável. Quadros tão antigos quanto se podia imaginar, impossível  datar quando foram pintados,talvez milênios.
O que realmente chamou a atenção da polícia foi a quantidade das belas estátuas espalhadas por toda a casa. Estátuas esculpidas com chocolate e em tamanho natural. Elas exalavam aquele aroma inconfundível  que saía das chaminés da fábrica.
Um caminhão foi chamado para transportar tudo o que fora  apreendido na  casa de Guido.
Quando começaram a carregar as estátuas, a surpresa foi aterradora, as estátuas eram feitas para esconder os cadáveres das garotas desaparecidas.

 Ficamos ainda mais chocados e assustados quando soubemos a forma com que o chocolateiro assassinava suas vítimas. Guido colocava entorpecentes - que ele  mesmo sabia preparar - dentro dos bombons que oferecia para as garotas que escolhia como vítimas.
Guido levava as garotas já dopadas para a fábrica de chocolates, depois de violentá-las e cometer todo tipo de crueldade, usava a máquina de filtrar o leite para lhes retirar completamente todo o sangue. Depois, injetava  nas veias das meninas,calda quente de chocolate. Com o sangue das garotas, ele produzia o ingrediente secreto que colocava em seus bombons.


O tempo passa mais rápido, quanto mais vamos amadurecendo.
Para decepção de Miltinho, Lili foi morar na Alemanha e não tem intenção de voltar.
Guido desapareceu, não deixou nenhum rastro.


Ah! Quase me esqueci de falar sobre Sara...
Sara era neta do judeu, dono da loja de couros, aonde eu ia três vezes por semana fazer compras. Miltinho conheceu Sara e claro, também ficou completamente apaixonado por ela.
Com Sara ele não quis perder tempo, em uma festa na casa do Nego Teta, Miltinho decidiu declarar seu amor infinito a ela. Preparou-se e foi todo confiante e com ar de conquistador experiente. Chegou perto da moça e não teve dúvidas, disparou:
- Sara, você é linda, eu te amo e estou afim de namorar contigo!
Ao ouvir a declaração de Miltinho, Sara, do alto de seus vinte e sete anos, não pensou duas vezes:
- Se enxerga moleque! Você acha que tenho cara de babá?

Miltinho e eu, até hoje, até hoje, odiamos chocolate.




Friday, June 03, 2016

Je Suis Rio

Vem aí!
Je suis Rio,antologia, lançado na França.Me sinto muito orgulhoso em fazer parte desta obra.No livro, um conto meu,Zé Azul do Rio de Janeiro.Além de mim,tem Ferréz,Marcelino Freire, Alexandre De Maio, entre outros autores!
Editora Anacaona.