Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Sunday, February 12, 2017

Contos Eróticos Infantis O Padre Bianca

Contos Eróticos Infantis
O Padre Bianca
Imagem:Internet


   Todos nós, sem exceção, carregamos por toda a vida fatos marcantes de nossa infância. Um dia, lá na frente,vamos sentir saudades de lugares que visitamos,choraremos por coisas e pessoas que deixamos pra trás. Mas também, em algum momento, vamos sorrir das traquinagens e das loucuras infantis. A infância parece nunca ter fim e quando percebemos, somos adultos , amadurecemos, vemos que tudo valeu à pena e passamos a entender melhor a vida.

   Era o ano de 1978 e era época de Copa do Mundo na Argentina. Saíamos do Colégio Mário Rangel e corríamos para o campo do Águia, que ficava do outro lado da rua, na lateral da Igreja São José Operário. No campo, formávamos os times e disputávamos nossa copa do mundo particular.
   Somente aos domingos entrávamos na igreja, íamos à missa e depois, nos reuníamos no campo para nosso jogo sem fim.
   Miltinho e eu não gostávamos de ir à missa, só íamos aos domingos na missa das sete horas, por causa de Cleonice. Miltinho como sempre, desta vez apaixonara-se por ela, aliás, ele se apaixonava por uma nova garota a cada sete dias, sem nunca ter sucesso.
   Cleonice morava no Jardim Lilah e Miltinho me fazia andar quilômetros para passarmos pela rua detrás da casa dela para jogarmos pedra em seu telhado, era a maneira que ele achava que chamaria atenção. O que acabou também não dando certo. O Luiz do bar, percebendo nossa insistência, colocou Duque, seu cachorro pastor alemão para nos dar uma carreira. Miltinho, enfim, para o bem de minha saúde, desistiu de Cleonice.
   Miltinho eu e a turma do futebol, não éramos bem-vindos nas missas. O padre Emílio nos marcava sob pressão, nos vigiava o tempo todo e quando falávamos mais alto nos chamava à atenção. Foi em um desses domingos que o Padre Emílio apresentou uma nova pessoa para nossa comunidade, era Eliel. Eliel lhe ajudaria nas celebrações. Ele seria o novo diácono.
   Eliel lia os folhetos, cantava e também usava uma roupa igual a do padre. Ao ver Eliel falando para as pessoas na igreja, Miltinho perguntou em voz alta:
   - Padre Emílio, esse é o novo padre?
   Padre Emílio, rindo da pergunta de Miltinho e explicando calmamente, disse:
  - Não meu filho, ele é diácono, vai me ajudar nas coisas da igreja.
   Para surpresa de todos e nossa vergonha descomunal, Miltinho, lá do fundo da igreja gritou para o coitado do Padre Emílio:
   -Ele é padre sim! Ele usa vestido, igual ao senhor!
   O domingo foi de sol.

   Eliel gostava de futebol e junto com o Genésio, resolveu montar para nós um time de futebol. E era um time com uniformes e etc.
   Genésio não tinha uma boa reputação no bairro, diziam que ele era “macho e fêmea”. Usavas as unhas pintadas e quando conversava afeminava a voz.
   Eliel ficou muito amigo de Genésio, começou a passar várias horas por dia em sua casa,os dois eram fãs de Ney Matogrosso.Aquela súbita e estreita amizade despertou a curiosidade da molecada.Os meninos mais velhos faziam campana ao lado das janelas da casa de Genésio,tentando ver ou ouvir o que se passava lá dentro...

   Finalmente chegou o dia de estrearmos o time e os uniformes, estávamos ansiosos para a disputa de nossa primeira partida “oficial”. Genésio e Eliel nos davam as últimas instruções.
   O jogo começou e nada dava certo pra nós, só na metade do primeiro tempo, já perdíamos por três á zero! Manezinho, um conhecido malandro do bairro, também assíduo frequentador da casa de Genésio, gritava do lado do campo:
   - Ô Genésio! Ô Bianca! Arrumem esse time!
   Ouvimos os gritos de Manezinho, Miltinho olhou pra mim, olhei pro Alemão que olhou para o Adir,que olhou pro Ciro e ao mesmo tempo,tomados pela surpresa, nos perguntamos uns aos outros:
   - Bianca?!!
   Bianca era o nome de “guerra” de Eliel. Depois de nosso espanto, Manezinho nos revelou que ele, Genésio e Eliel, ganhavam um dinheiro extra, “conversando” dentro de carros com velhos ricos, lá na Avenida São Gabriel.

   O último domingo de novembro de 1978 foi o último dia em que vimos Eliel. Antes que a missa terminasse o Padre Emílio informou que era aniversário do Diácono Eliel e todos cantaríamos parabéns para ele. A igreja esta cheia, toda a comunidade estava presente naquele dia, os times que jogariam depois da missa, até o Manezinho estava lá.
   A banda começou a tocar o Parabéns pra Você, o padre começou a cantar, tudo caminhava para um final feliz, até que...Miltinho com a voz esganada puxou outro coro:
   - E pra Bianca nada?
   Nem seria necessário dizer que não houve festa.

   O tempo passou, o time acabou e o famoso campo do Águia deu lugar ao comércio e a uma agência do Bradesco. Anos depois soubemos da morte de Genésio, com uma doença grave, teve medo de morrer só, atirou-se de uma ponte.
   Passamos muitos anos sem notícias de Eliel, até que Miltinho voltando depois de trinta dias de férias em Governador Valadares, bateu na porta de casa de madrugada e me contou eufórico:
   - Marquinhos!Sabe quem eu vi?
   - Sei lá!
   - Marquinhos, encontrei o Eliel!
   - Onde?
   -No circo!
   - Ele tava fazendo o quê lá? Miltinho, ele te viu?
   - Ele é artista agora! O nome dele é Bianca Matogrosso!
   Deveria ser obrigatório haver sol em todos os lugares do mundo, todos os domingos.