Tragédias
Cotidianas
Foto: UOL
Minha amiga Rita
Rodrigues me perguntou se eu não comentaria sobre o que aconteceu na
casa de shows em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Eu disse a ela que
não havia muito o que comentar. Pensei realmente em não escrever
nada sobre o assunto. Estava esperando esgotar toda a exploração
midiática e política do acidente.
Após refletir,decidi
que não devo e não posso perder o direito de me indignar sobre mais
uma tragédia.
A indignação começa
quando as vidas perdidas já não importam,importam apenas as
melhores imagens,os melhores ângulos,aquela imagem exclusiva. Me
indigna também os comentaristas profissionais,com suas suposições
e falastrices.
A indignação aumenta
quando começam a apontar os culpados. O culpado é o músico,não
poderia ter usado fogos de artifício no palco. A culpa não é do
músico,a culpa é todos nós. Nós matamos os jovens na casa de
shows. Nós acendemos o fósforo que matou um pouco de uma nova
geração de brasileiros. Porque somos nós que fazemos as escolhas
erradas,somos nós que não damos atenção à corrupção que
destrói nossas vidas. Somos culpados porque não cobramos
devidamente aqueles que nos representam. Somos culpados porque não
amamos os nossos iguais. Somos culpados porque somos egoístas.
Nós matamos os jovens
em Santa Maria,porque sabemos que a fiscalização nas prefeituras
são apenas órgãos paralelos de arrecadação para políticos.
Sabemos também que os donos da casa de shows , que só pensavam no
lucro e certamente pagavam propina à alguém.
Somos todos culpados
porque as tragédias não mais nos assombram,elas viram espetáculo.
E é sempre
assim,depois
da tragédia,vem a exploração da mídia,vem a comoção,vem o
choro. Culpa-se o mais fraco. Inventam uma nova lei. E daí ,vamos
dormir confortados e esperar a próxima tragédia. E as tragédias
vêm sempre embaladas para presente.
Depois dos funerais,esvaziam-se as manchetes,vem o esquecimento.
Mas um coração de mãe vai sangrar todo dia,até o fim dos tempos.
Depois dos funerais,esvaziam-se as manchetes,vem o esquecimento.
Mas um coração de mãe vai sangrar todo dia,até o fim dos tempos.
Marcos
Teles.