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A
Rainha da Fofoca
É sabido que a fofoca sempre existiu desde os primórdios,
mas o Brasil foi o país onde este artifício mais se expandiu.
Se existisse uma olimpíada de fofoca o brasileiro
seria medalha de ouro em todas as modalidades, principalmente em fofoca à distância,
arremesso de fofoca, fofoca em altura, salto triplo em fofoca, maratona de fofoca
e muitas mais.
Também é do conhecimento de todos que em toda e
qualquer rua do Brasil, reside pelo menos uma pessoa fofoqueira. Na minha rua
não seria diferente.
Quando vim morar aqui neste bairro, conheci a fama de
fofoqueira de Dona Dadá. A mulher sabia da vida de todo mundo. Tudo o que
acontecia nas casas, nos bares, nas igrejas, ela dava um jeito de descobrir e
espalhar aos quatro ventos. Dona Dadá não podia ver um grupo de pessoas que
logo se aproximava e perguntava com seu talento nato para a especulação da vida
alheia:
- O que é que vocês estão aprontando, hein?
E não adiantava esconder, em pouco tempo aquela
conversa já virava assunto em todo lugar.
Eu tinha “um pé” atrás com Dona Dadá, o máximo que
fazia era lhe dar bom dia, boa tarde e boa noite. Evitava ao máximo que ela
tentasse puxar conversa comigo. E assim se passou muito tempo.
Depois de alguns anos, passei a trabalhar à partir de
casa, então, comecei a receber muitos amigos, clientes e parceiros. Durante o
dia e até altas horas da noite, pessoas entravam e saiam de minha casa.
Dona Dadá observava o entrai e sai de pessoas e cada
vez que passava em frente à minha casa, dava um jeito de diminuir o passo para
tentar captar algo.
Eu sabia que chegaria o dia em que ela não resistiria
e viria especular, eu me esguiava dela, fingia mesmo não vê-la, só para não lhe
dar assunto.
Mas não dava para fugir de Dona Dadá a vida toda...
Foi em uma tarde em que eu me despedia de alguns amigos,
que Dona Dadá me pegou de surpresa. Acompanhada de uma amiga, veio caminhando
de mansinho, passou por mim, deu uma olhadinha, um sorrisinho amarelado, até
pensei que ela passaria direto, mas não.
Eu já me preparava para entrar e fechar o portão,
quando de repente, me virei e Dona Dadá já estava tocando em minhas costas e
perguntou:
-Tudo bem com você, rapaz?
Eu respondi que sim, que estava tudo bem. Mas ela já
estava com a artilharia armada e prosseguiu:
-Tanto tempo que você mora aqui e nunca paramos para
um papinho.
- Pois é - respondi.
Ela tinha uma técnica impressionante, poderia ser
repórter investigativa:
- Todo dia vem bastante gente em sua casa, desculpe eu
perguntar, mas você trabalha com o quê, filho?
Dona Dadá não imaginava que eu também havia me
preparado para aquela hora fatídica, que sabia, chegaria um dia e com ar de
vitória lhe respondi:
-Sou do crime! Sou o chefe do tráfico do bairro!
Para minha surpresa, Dona Dadá, deu um sorriso triunfal,
foi embora sem falar mais nada comigo, colocou o braço no pescoço da amiga e falando
baixinho, comentou:
-Não te falei “fia”! Ele é pastor da Igreja Universal!