Imagens:Internet
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro assassinou cinco jovens homens pretos.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro não assassinou apenas cinco jovens homens pretos.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro assassinou o futuro de cinco jovens homens pretos.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro,todos os dias, assassina o futuro.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro,também não gosta de jovens homens pretos.
Marcos Tecora Teles

Tuesday, December 01, 2015
Wednesday, October 28, 2015
Contos Eróticos Infantis O Homem da Roupa Verde Que Encantava Prostitutas
Foto:Internet
Contos
Eróticos Infantis
O
Homem da Roupa Verde Que Encantava Prostitutas
Nós humanos, passamos a vida inteira
tentando entender como somos, o que somos e como e por que o tempo passa. E
tentamos nos aceitar.
No nosso caso não havia muito o que entender,era
só aceitar. Para Miltinho e eu, o tempo também passou...
Agora, éramos dois rapazolas e eu estava
indo para o meu primeiro dia de emprego. Emprego que Miltinho arrumou para mim.
O trabalho era em uma empresa de mala direta, nosso trabalho era colocar as
cartas nos envelopes e levar aos correios. Confesso, era divertido. Éramos uma
turma de jovens de vários bairros da cidade e trabalhávamos apenas três dias
por semana.
Naquele velho edifício do centro da cidade, no
mesmo andar em que envelopávamos as cartas, havia um escritório de contabilidade,
lá trabalhavam algumas pessoas, dentre elas, uma mulher jovem chamada Ester, uma
loira que tinha um mau hálito dos infernos, um rapaz careca e mal humorado e um
velhinho bem vestido e muito educado, Seu Henrique.
Com tantos moleques trabalhando juntos, era
inevitável a algazarra, a zoeira e a diversão. Depois de algumas semanas, Seu
Henrique passou a visitar nossa sala. Ficava na porta ,nos observando,sorria. Ele
se divertia também.
Seu
Henrique tinha a mania de esfregar as mãos, era a forma de demonstrar excitação,
contentamento, mas Miltinho ficava encucado com Seu Henrique:
- Marquinhos, esse velho é bicha!
-Acho que não. Ele é bacana. Deve ser o
jeito dele, ele é quieto.
Miltinho
insistia em tentar me convencer:
-
Marquinhos, olha só. Esse velho só anda vestido com roupa chique, sapato lustrando,
com essa gravatinha borboleta, fica olhando pra gente, sorrindo e esfregando as
mãos.E é educadinho demais.
Miltinho repetia as mesmas palavras toda vez
que via Seu Henrique.
Ester, a jovem mulher, elucidou de uma vez
por todas as dúvidas. Ela ouviu um dos comentários de Miltinho, dizendo que
achava que Seu Henrique era homossexual. Ester chamou Miltinho e eu em sua sala
e nos contou:
-Eu sei que vocês ficam preocupados com o
jeito de Seu Henrique. Por favor, não tenham medo dele, ele é apenas uma
criança, envelheceu somente o corpo. Seu Henrique tem um ligeiro retardo
mental.
Nós ouvimos atentos a explicação de Ester, Miltinho
me olhava e demonstrava remorso. Foram tantas as ofensas veladas ao velhinho...
Nossos corações doeram...
Enquanto Ester falava conosco, Seu Rômulo
entrou na sala. Seu Rômulo era o irmão mais velho de Seu Henrique e dono do
escritório de contabilidade. Seu Rômulo ajudou Ester a terminar a explicação:
-Eu não pude deixar de ouvir a conversa, mas
só pra encurtar, vou dizer uma coisa pra vocês, meu irmão nunca se sentiu tão feliz.
Ele nunca conviveu com outros jovens. Henrique tem um tumor no cérebro desde
que nasceu, ficou com esse retardo e teve um trauma quando perdemos nossa mãe.
Miltinho e eu apenas escutávamos e Seu
Rômulo nos disse mais:
- Meu irmão, tem muito apreço por vocês. Aproveitem
a amizade dele. Ele está com sessenta e cinco anos, não tem muito tempo.
Seu Henrique chamava qualquer pessoa, de
qualquer idade de senhor ou senhora. Era extremamente educado, inteligente, um ser
absolutamente doce. Usava roupas finas, feitas sob medida pelos melhores
alfaiates da cidade. Amava livros e filmes. Pela falta de companhia nunca saía
de casa.
Seu Henrique gostava de usar roupas verdes e
isso nos fazia brincar e deixá-lo apavorado:
- Seu Henrique! Se o senhor passar na frente
da pastelaria do chinês com essa roupa verde, eles vão cortar o senhor e servir
para os clientes, viu? –Miltinho gostava de chateá-lo.
-
É perigoso mesmo senhor Marquinhos? Seu Henrique me perguntava.
-
Claro que é Seu Henrique. O senhor acha mesmo que o chinês compra toda aquela
verdura? Eu também me divertia com a conversa.
O fato é que Seu Henrique abandonou os ternos
verdes, os sapatos de cromo alemão, a gravata borboleta e passou a se vestir
como nós.
Nós aprendemos a entender como seu Henrique pensava.
No trabalho, era competente, compenetrado, assíduo e pontual. Quando se juntava
a nós, era como um adolescente, sempre querendo saber coisas novas. Coisas que
um homem aos sessenta e cinco anos ainda não havia vivido. Seu Henrique tinha
pressa em aprender, tinha a necessidade de conhecer o mundo em que os garotos
de minha idade viviam.
Miltinho resolveu dar um presente para Seu Henrique,
nós o levaríamos para sair conosco, à noite, pelo centro da cidade. Íamos
levá-lo ao cinema, aos bares e aos inferninhos.
Passamos dias combinando tão insano ato, Seu
Henrique estava ansioso, preocupado em como fugir de casa em um sábado a noite,
sem que ninguém o visse saindo e chegando.
Tudo deu certo.
Encontramos seu Henrique no sábado às sete
da noite na Avenida São Luiz. Ele estava elegante como sempre. E feliz como
nunca...
Fomos direto para a boate Clube de Paris, onde
nosso amigo Gérson era segurança. Pedimos cerveja e ficamos olhando as moças
fazerem seus shows.
-Seu Henrique?- Miltinho perguntou - Quer
beber?
-Não posso!
- Quem falou que o senhor não pode?Miltinho perguntou novamente.
- Quem falou que o senhor não pode?Miltinho perguntou novamente.
-Meu pai! Respondeu seu Henrique.
-Mas seu pai morreu faz tempo! Pode beber, ele
não está vendo e ninguém aqui vai falar pra ele. Não é Marquinhos?
Miltinho foi convincente. E eu confirmei
balançando a cabeça e rindo escondido.
Seu
Henrique bebia aquele copo de cerveja e sorria. Sorria extasiado, como um
condenado a morte, que no último instante recebeu o indulto.
No outro sábado Miltinho resolveu aumentar a
loucura e a irresponsabilidade. Levaríamos seu Henrique ao 69,o bordel mais
famoso e fuleiro da cidade.
- Miltinho, você é doido? Levar o Seu
Henrique na zona? Eu perguntava preocupado.
- Calma Marquinhos, calma! Deixa o velhinho
se divertir, ele ainda é virgem! -Miltinho gargalhava - Seu Henrique precisa
trocar o óleo!
No dia fatídico chegamos ao prédio da Rua
dos Andradas, um lugar estranho, homens que entravam e saíam. Todos preocupados
em não serem vistos, descobertos. Nas escadas, mulheres seminuas convidavam
para um momento de prazer.
Miltinho já conhecia bem ali, fomos subindo
até um andar intermediário onde havia um pequeno bar. Pedimos cerveja e
resolvemos servir conhaque para Seu Henrique. Ele adorou.
Ficamos ali, observando o movimento. A todo
instante as mulheres se insinuavam e nos convidavam para um programa. Uma
mulher madura se aproximou de nós e convidou Seu Henrique:
- Oi gato!Vamos brincar?
Seu Henrique nos olhou de um jeito engraçado,
ficou confuso com a pergunta da prostituta e nos perguntou:
- Os senhores acham que posso brincar com
ela?
- Claro! Estamos aqui pra isso, Seu Henrique.
Explicou-lhe Miltinho.
Seu Henrique ainda confuso perguntou para a
mulher:
- A senhora quer brinca de quê?
- Brincar de quê gato? Brincar de fazer
neném!
A prostituta saiu do quarto com o rosto sereno,
parecia muito mais jovem do que havia entrado. Seu Henrique sorria e esfregava
as mãos.
Tudo correu em paz. Voltamos para casa, Seu
Henrique estava encantado com as luzes da madrugada, estava encantado com mais uma
noite que estava chegando ao fim.
Seu Henrique conheceu quase todos os
prostíbulos do centro da cidade. Conheceu cada cinema e teatro de striptease. Foi
para o quarto com muitas mulheres.
Foram meses mágicos. Seu Henrique aprendeu
conosco o que era perdição e nós aprendemos com ele a maneira que nos salvaria
da miséria do mundo. Seu Henrique não tinha medo de caminhar pelas ruas imundas
e fedorentas, não tinha preconceito em se relacionar com a ralé. Ele contava
lindas histórias, muitas delas retiradas dos livros que lia e dos filmes que assistia,
mas muitas da lindas histórias surgiam de sua mente inocente. Ele nos contou
sobre sua doença, sobre o pouco tempo que tinha pra viver, sobre o trauma por
ter visto na infância sua mãe se afogar.
Seu Henrique nos falou de sua namorada, que
ela morava no mar e vinha visitá-lo e que, um dia ficariam juntos para sempre.
Seu Henrique nos falava com imensa tristeza que
quando sentia dores de cabeça tinha que ficar quieto, porque aquele poderia ser
seu último instante. Seu Henrique nos contou que as dores que chegavam como
choques em sua cabeça, estavam aumentando.
O aviso de luto na porta do escritório de
contabilidade nos pegou de surpresa.
Dias depois Seu Rômulo nos deu a triste notícia.
Seu Henrique desapareceu. Foi visto pela última vez em frente ao mar no Guarujá.
Uma pessoa relatou que viu um velhinho vestindo um lindo terno verde, usava uma
gravata borboleta, calçava brilhantes sapatos pretos e carregava nas mãos um
enorme buquê com maravilhosas rosas amarelas. A pessoa relatou que o velhinho
parecia esperar alguém, pois a todo instante olhava o relógio,até que ele
gesticulou,abriu os braços e como se segurasse na mão de alguém foi
desaparecendo mar adentro.
Tempos depois encontramos a primeira mulher
que levou seu Henrique para o quarto, ela estava trabalhando em uma loja de bijuterias
na Rua Vinte e Cinco de março. Nos contou que abandonou a profissão depois que
saiu do quarto com seu Henrique naquela noite.Nos contou que ele pediu pra que
ela apenas se deitasse ao seu lado,que fechasse os olhos, ela nos disse que ele
lhe contou lindas histórias. Afirmou que enquanto ele lhe contava aquelas
lindas histórias, era como se estivesse encantada. Falou que ouvia e parecia
estar em cada uma daqueles lugares que o velhinho narrava. Que quando acordou
se deu conta de que aquele não era seu lugar.
Descobrimos que Seu Henrique nunca teve
relações sexuais com nenhuma daquelas mulheres. Seu Henrique as amava, amava os
seres humanos e os entendia, sentia pena da miséria em que vivia cada uma delas.
E ele também as salvou.
Miltinho e eu de vez em quando, usávamos
roupas verdes, passávamos correndo em frente a pastelaria do chinês na Ladeira
Porto Geral,para que ele não nos cortasse e servisse para seus clientes.
Tuesday, October 06, 2015
A Rua dos Suicidas
Imagem:Internet
Há muitos anos em nosso bairro,haviam duas ruas muito estranhas.Uma era chamada de Rua dos Suicidas e a outra,era a Rua dos Assassinos.
Os nomes faziam jus a realidade.Na Rua dos Suicidas,cinco moradores haviam se matado em menos de três anos.Na Rua dos Assassinos,oito moradores estavam na penitenciária por terem executado várias pessoas.
As duas ruas eram sombrias,as crianças do bairro evitavam ao máximo passar por elas.
Na Rua dos Suicidas,morava Malu,uma moça loira e bonita que não falava com ninguém.Malu usava maquiagem escura,vestia somente roupas pretas e usava um véu,também preto.
Na Rua dos Assassinos,morava Angélica,irmã gêmea de Malu...
Continua amanhã...
Há muitos anos em nosso bairro,haviam duas ruas muito estranhas.Uma era chamada de Rua dos Suicidas e a outra,era a Rua dos Assassinos.
Os nomes faziam jus a realidade.Na Rua dos Suicidas,cinco moradores haviam se matado em menos de três anos.Na Rua dos Assassinos,oito moradores estavam na penitenciária por terem executado várias pessoas.
As duas ruas eram sombrias,as crianças do bairro evitavam ao máximo passar por elas.
Na Rua dos Suicidas,morava Malu,uma moça loira e bonita que não falava com ninguém.Malu usava maquiagem escura,vestia somente roupas pretas e usava um véu,também preto.
Na Rua dos Assassinos,morava Angélica,irmã gêmea de Malu...
Continua amanhã...
Monday, October 05, 2015
Igreja Universal do Reino do Lula
Foto:Internet
Igreja Universal do Reino do Lula
Nunca antes na história deste país se usou tanto ardil para se apossar de corações e mentes. O governo Lula em comunhão com a Igreja Universal formam uma grande e perigosa facção. O governo aprendeu com os Bispos da Universal a arte da prestidigitação, também aprendeu a disseminar a Teologia da Prosperidade, oferecendo aos pobres o paraíso e criando legiões de ignorantes. Lula é o mágico, que esconde no bolso do paletó o nosso futuro. Alardeia aos quatro cantos coisas que nunca fez e nunca fará, mas o prestidigitador tem esse poder, a ilusão como arte. Nos discursos aprendidos na Universal, revela como é fácil colocar quase toda uma nação em catarse.
O povo que ainda passa fome, que ainda vive de forma indigna e
perturbadora, não doa seu dízimo ao Lula, doa seu voto. Nunca antes na
história da humanidade um país foi governado por um ilusionista. O
Brasil é o primeiro.
Marcos Teles
Marcos Teles
Tuesday, September 22, 2015
É Que... Faltou Dizer Eu Te Amo
Imagem:Internet
É Que... Faltou Dizer
Eu Te Amo
Eu reconheci
aquele caminhar, aquele jeito de dar cada passo. A cada pedaço de rua que ela avançava,
o tempo me levava de volta para trinta anos atrás. Ela conservava a mesma
beleza.
Ela me reconheceu.
Eu estava parado na porta da casa de meu irmão. Fui buscar Samira, minha
pequena sobrinha, que iria fazer uma longa viagem.
Ela se aproximou,
me olhou nos olhos e sorriu.Era o mesmo sorriso.Eu lhe estendi a mão.Suas mãos estavam trêmulas e a voz conservava
a mesma melancolia.
As palavras
demoraram a sair:
- Como vai?
-Vou indo. A
vida está cada vez mais corrida.
-Faz tempo
que não aparece por esses lados.
-É verdade. Coisas
acontecem e tudo muda muito de repente.
-Da última
vez que esteve por aqui, e já faz muito, muito tempo,te vi de longe.
- E por quê
não falou comigo?
-Você estava
acompanhado.
-Não havia
problema algum nisso.
-Não quis
ser deselegante. Achei desnecessário criar um transtorno, trazendo um pedaço
perdido do passado.
-Tudo bem.
Ela me
olhava atentamente, como se buscasse algo escondido dentro de mim e falou:
-Você está
muito bem, continua bonito.
-O tempo
também tem sido generoso contigo. Você está linda também.
Eu tinha
tanto para perguntar e as palavras insistiam em não querer sair, eu me
esforçava:
-Como está
sua família?
-Família?
-Sim, sua
família.
-Nunca tive.
-Mas você se
casou.
-Não durou
muito tempo.
-E filhos?
-Não os
tive.
-Não quis
ser mãe?
-Durante um tempo,
sim. Até que tentei.
Os olhos
claros dela refletiam uma certa dor escondida na alma.
Fomos
soltando as amarras e as palavras que deveriam ser ditas no passado, só agora
vieram:
-Você ainda
se lembra da última vez que conversamos?
-Sim, na
missa de sétimo dia de seu pai.
-Você
apareceu lá com seu marido.
-Nossa! O tempo
passou rápido demais.
-Demais, demais,
demais.
Ela tinha
muitas perguntas e nunca tive as respostas.
-Olha, eu
nunca tive a chance, talvez se tivesse tido, me faltaria coragem.
-Coragem, pra
quê?
-O que
aconteceu com a gente?Por quê você foi embora?
-Foi sua a
culpa.
-O que eu
fiz?
-Você nunca
me deu certeza se gostava de mim. Nunca me deu certeza se queria ficar comigo.
-Não
acredito que isto ouvindo isso de você. Você resolveu ir embora. Fiquei sabendo
na manhã em que embarcou naquele maldito ônibus. Mesmo assim, ainda fui lá e vi
de longe você indo embora.
-Eu te vi na
rodoviária.
-E não se
despediu de mim. Nem mesmo um único e mísero aceno.
-Eu esperei você
me pedir pra ficar.
-Eu esperei
você descer do ônibus, desistir de ir embora e me dar um abraço.
-Eu chorei
durante toda a viagem. Quando começava a pegar no sono, acordava aos
sobressaltos sentindo o teu perfume.
-Chorei muito.
Chorei durante muitos meses.
-Eu pensei
em voltar.
-Eu te
esperei.
-Mas se
casou com outro.
-Te esperei
por muito tempo. Nunca recebi uma carta sua.
-Você nunca me
deu certeza se gostava de mim.
-Você também
não.
-Me fazia
sentir ciúmes.
-Eu só
queria chamar sua atenção.
Seus olhos
claros se umedeceram, por baixo dos meus óculos escuros as lágrimas rolaram
escondidas.
-Muitas
vezes eu liguei na casa de minha mãe, exatamente na hora em que eu sabia que
você estava passando em frente.
-Você nunca
me enviou um recado.
-Eu pedia
pra minha irmã me dizer que roupa você estava usando e se estava linda como
sempre.
Ela queria
dizer mais alguma coisa:
-Seus filhos
são lindos.
-Sim, eles
são lindos.
-Eles se parecem
com sua mulher.
-Parecem
muito.
-Sua mulher
se parece comigo. Foi proposital?
-Como
assim?Proposital?
-Se casar
com alguém que se parece tanto comigo?
-Não. Foi o destino.
O lugar em que a conheci, o coração precisando de abrigo.
-Você a ama
muito.
-Amo. Amo de
verdade. Aprendi a amá-la com todas minhas forças.
Ela estendeu
a mão para me dizer adeus:
-Foi bom te
ver.
-Foi um prazer.
Me perdoa?
-Claro. Já
te perdoei há muito tempo. Sem ressentimentos Já estamos velhos para desenterrar
os erros do passado.
Ela ajeitou
o lenço no pescoço, colocou o chapéu e se foi dizendo:
-Boa sorte e
boa viagem.
-Boa sorte
pra você também. Cuide-se.
Samira foi
buscar suas malas e parou para ouvir a conversa atrás da porta entreaberta da sala
que dá para a rua. Coloquei suas malas no bagageiro e ela sentou-se no carro. Depois
de sair da avenida e entrar na estrada, Samira rompeu o breve silêncio:
-Você e ela
já foram namorados, tio?
-Não sei se “namorados”
é a palavra exata. Nós tentamos ficar juntos uma vez, já faz muito tempo.
-Ela te amou,
tio. Ela vai te amar a vida inteira.
-Como você
pode afirmar isso?Você só tem onze anos?
-Tio!Dá pra
ver nos olhos dela, dá pra ouvir na voz dela.
-E você
percebeu isso assim, tão depressa?
-Tio! Já
entendo algumas coisas. Já sei o que aconteceu com vocês dois.
-E o que
aconteceu?Pode me dizer?
-É que... Faltou
alguém dizer, eu te amo.
A noite
começava a cair, o sol estava vermelho, a linha do horizonte já ficava mais perto.
E como há trinta anos atrás,o perfume dela me mantinha acordado.
Saturday, August 22, 2015
Os Mudos da Praça da Sé
Eles são muitos. Eles dormem pelos
cantos e até no meio da Praça. Você os olha, mas não os vê. Provavelmente, você,
surdo, nunca ouviu aquelas vozes.
É que você, surdo, passa com pressa, de
cabeça baixa, teclando e falando ao seu telefone celular. Você, surdo, está
sempre conectado com sua empresa, seu patrão. Você, surdo não ouve os mudos da
Praça da Sé, porque está sempre consultando no seu “tablet” o saldo de sua
conta bancária. Mas eles estão todos lá. Todos os dias e noites. Eles vivem lá.
Mas ontem foi diferente, ontem foi
mágico!
Eles estavam lá, em frente ao palco. Muitos
dividiam suas garrafas de cachaça, muitos outros dançavam e se drogavam e
outros tantos observavam a multidão encher a praça.
Ontem foi o dia de celebrar 26 anos
sem Raul Seixas e o evento estava pronto. Na última hora resolvemos improvisar
um sarau poético. E nós olhamos e conseguimos ver os mudos da Praça da Sé.
Não, não queríamos ouvir os poetas afetados,
não queríamos ouvir os acadêmicos, não, não queríamos ouvir os revolucionários.
Nós queríamos ouvir os mudos da Praça da Sé.
Nós os convidamos. E eles aceitaram o
convite. E nos fizeram chorar.
Os mudos da Praça da Sé, eles mesmos,
maltrapilhos, viciados e humilhados foram chegando,esperaram tranquilamente o
momento de subir ao palco.
A “muda” Magdalena brincou com seus
irmãos de rua e se emocionou a ouvir sua voz nas caixas de retorno. Magdalena sorriu
seu sorriso que deveria estar há anos escondido em um canto qualquer daquela
Praça.
O “mudo” Luciano, com o rosto sujo
perguntou a todos o que é o amor. Ele mesmo respondeu, com uma linda e
melancólica voz, cantou uma triste canção.
Os mudos da Praça da Sé com o
microfone nas mãos ouviam suas vozes ecoarem por todos os cantos do velho
centro. Os surdos pararam para ouvir.
Os mudos iam passando pelo
palco,muitos cantaram,contaram histórias e falavam de suas vidas.
O evento terminou, fomos todos
embora, os técnicos,os seguranças, os artistas... os mudos voltaram a se calar.
Nós viemos embora, mas nossos ouvidos
continuam lá, na Praça da Sé. Continuaremos por muito tempo, lembrando das
vozes dos que não têm voz.
Continuaremos por muito tempo,
lembrando dos sorrisos das Magdalenas, das músicas tristes dos Lucianos... e de
um dia mágico.
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