Na estação,tenho certeza que foi ela quem passou ao meu lado.Será?
Já faz tanto tempo. O tempo não passou tão depressa pra ela, os mesmos olhos brilhantes, os lábios carnudos, só os cabelos estão curtos e tingidos.
Ela passou e não percebi. Estava distraído, coisas do cotidiano, que nos faz pensar em voz alta.
Tentei vê-la mais uma vez, já era tarde. Ela atravessou a avenida segurando uma criança pela mão.
Bobagem gritar seu nome naquele instante, com todo aquele barulho ela não ouviria.
Sentei no banco do trem e fui buscando imagens de um passado assim nem tão distante, de uma época em que fui um pouco mais feliz. Quem sabe...
Fechei os olhos e ela voltou. Como naquela tarde em que sentamos na calçada e falamos sobre tantas coisas.
E me lembrei de seu vestido com flores estampadas, do pequeno broche.
Sei que tinha cachos nos cabelos e me permitiu passá-los entre meus dedos.
E encostou a cabeça no meu peito e rezou para que o mundo parasse ali,pra ficarmos juntos até o fim dos tempos.
E nesse mesmo dia, durante uma chuva repentina trocamos um beijo,um doce e suave beijo,com direito a arco-íris e bem-te-vis.
Assim como a chuva ela passou. Não posso afirmar que foi amor que senti. É que tudo aconteceu de repente.
E quase havia me esquecido. Me esquecido de um beijo, um lindo e doce beijo,com gosto de chuva.
Adeus R...
É hora de desembarcar.
