Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Wednesday, June 13, 2007

Quando Voltar a Sorrir



Ontem reencontrei João. Há quantos anos não nos víamos. João, amigo de confidências, de muitas noitadas e muitos copos. Mas João é hoje um homem triste. Raspou a cabeça, mudou as roupas e o jeito de falar. Me contou suas tristezas, do mundo que construiu e hoje não é mais dono.

Reencontrei João. Fiquei feliz, mas fiquei triste também, fiquei triste com a tristeza de João. João agora é um homem triste pelas coisas que conseguiu e hoje não é mais dono.

Ele era feliz quando se casou, feliz quando os filhos nasceram e cresceram. Casou, mas se separou. João agora é um homem triste, por tudo que ganhou e hoje não é mais dono.

Comprou casa na praia, na cidade e no campo, comprou carro conversível, viajou o mundo todo, mas João agora é um homem triste, por tudo que pagou e hoje não é mais dono.

Até ontem vagava por aí, sem pressa, sem dinheiro e sem destino. Falou-me da sua dor na alma, da solidão e das estrelas, as estrelas que não lhe apontam mais um caminho. João é hoje um homem triste, com medo e sozinho.

Antigamente, João e eu, éramos comandantes de naus urbanas, nas loucas viagens de ônibus por toda a cidade, da zona sul à zona norte, à procura dos “bailes -sem- fim”, na companhia de mulheres de bocas vermelhas. Mas João é hoje um homem triste, calado e tímido.

João me disse que fez um juramento de nunca mais sorrir, que sua tristeza é infinita e que a vida lhe enganou. Mas apesar de ser hoje um homem triste, João não odeia e nem guarda rancor.

Ontem percebi que João não é o único, às vezes também me pego assim, com a alma cheia de dor, às vezes também fico vagando por aí, sem pressa, sem dinheiro e sem destino, mas ainda não calculei o quanto perdi.

Tenho certeza que sou como João, também tenho a cabeça raspada. Há tempos mudei as roupas e meu jeito de falar, é que também sou um homem triste, por tudo que não consegui conquistar.

Assim como João, ainda olhos as estrelas, procurando um caminho que me leve de volta aos tempos das naus urbanas, às mulheres de bocas vermelhas e aos" bailes-sem-fim". Ainda olho as estrelas, mas tenho certeza que é só pela beleza, pelo brilho, por que hoje também sou como João, um homem triste, calado e sozinho.

Eu sei que vai parecer hipocrisia, mas é que tudo muda tão depressa, quem sabe essa tristeza um dia abrande, um amor talvez não acabe, a dor não doa tanto, o amigo não tenha novamente que partir, talvez tudo melhore, quem sabe, quando um triste João, assim, feito eu e você, puder voltar a sorrir.