Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Friday, November 23, 2018

A Incrível Orquestra da Floresta





A Incrível Orquestra da Floresta


   No princípio, antes do homem habitar a terra, só haviam os animais. Eles também já eram organizados. Tinham seus reinos e suas leis.
   No princípio, não existiam países e nem fronteiras, somente os rios, as montanhas e os oceanos separavam a terra.
   A terra não se chamava terra, chamava-se Grande Vale, e à cada lugar dava-se um nome que se adequava aos animais que lá viviam.

   O Vale da Alegria era governado pelo Rei Alfeu, o mais inteligente dos elefantes. O Rei era casado com a Rainha Débora, uma elefanta linda e amorosa.
  
   O Vale da Alegria estava se preparando para uma grande festa, Depois de vinte e dois meses, estava chegando a hora de se conhecer o Príncipe herdeiro, a Rainha Débora iria dar à luz.

   Os moradores do Vale da Alegria esperavam ansiosos pelo anúncio do nascimento do bebê real. Mas mesmo com toda alegria, também havia a preocupação com a reunião do Grande Conselho dos Mais Velhos.

   Segundo a lei do Vale da Alegria, todo bebê que nascia e logo que conseguisse ficar de pé, deveria ser imediatamente apresentado ao Grande Conselho, pois os que nasciam com alguma imperfeição, seriam enviados para o exílio no Vale da Tristeza.

   O vale da Tristeza era um lugar terrível, feio, era somente o lugar em que os pobres animaizinhos eram deixados sozinhos para morrer.




   - O Príncipe nasceu!
   Anunciou o Mestre Gorila Orador.
   Gritos e vivas ecoaram durante toda a noite no Vale da Alegria.



   Depois da grande noite de festa, era chagada a hora mais tensa, o momento de apresentar o bebê real ao Grande Conselho.


   Reunido o Grande Conselho, a Rainha Débora apresentou seu bebê:
   -Senhores! Apresento-lhes meu filho, o Príncipe herdeiro do trono do Vale da Alegria.

   Ao ver o Príncipe caminhando, a Hiena Carlos, um dos inimigos do Rei Alfeu, em tom alarmante e com indisfarçável satisfação, gritou:
   - O Príncipe é manco! Está condenado ao exílio no Vale da Tristeza!

   A rainha pôs-se a chorar e seu choro comoveu a todos, que também não resistiram e choraram com ela, exceto, a Hiena Carlos.


Foi estabelecida a data da partida para o exílio, seria em três meses.
Durante muitos dias, a tristeza era imensa, a Rainha continuava seu choro dolorido e infinito.
O Rei estava quieto, pensativo e envolto em profunda tristeza.

Após conversar durante dias com a Rainha, o Rei convocou todos os moradores do vale para uma reunião e anunciar uma decisão que haviam tomado:
-Senhores do Grande Conselho e todos do Vale da Alegria, como não podemos deixar de cumprir a lei antiga, eu e a Rainha, abdicaremos do trono e partiremos com nosso filho para o Vale da Tristeza!


   Imediatamente, logo após a renúncia do Rei, a Hiena Carlos assumiu o trono, mesmo sob muita briga e discórdia.

  



     O Rei, a Rainha e o Príncipe, preparavam-se para partirem sozinhos para o exílio, mas foram surpreendidos pelo Macaco Gabriel:
   - Meu rei! Vossa Majestade e sua família não irão sozinhos, montamos um grupo e partiremos com vocês!


   Tigres, rinocerontes, girafas, pássaros entre tantos outros animais acompanharam a família real para o Vale da Tristeza.


   Foi um longo caminho, uma jornada difícil, dias e mais dias com frio, fome, sede e cansaço.

   Depois de dois meses, enfim, entraram no tão temido Vale da Tristeza. Tudo era desolador, animais doentes, muito choro e amargura. Animaizinhos tristes, indefesos, inocentes e abandonados eram os únicos habitantes daquele lugar tão feio.


   O Rei Alfeu, usando toda sabedoria e amor, logo declarou:
   - Aqui, somos e sempre seremos todos iguais, somos todos irmãos! Vamos no proteger e cuidarmos uns dos outros! Vamos viver em paz e igualdade até o fim de nossos dias!

   E assim foi feito.



  Nos primeiros dias, somente os animais saudáveis caminhavam longas horas em busca de água e comida, o que não era fácil encontrar. No começo era pouca água e comida, mas foram descobrindo novos lugares.

   O Macaco Gabriel era engenheiro, logo começou a construir coisas para ajudar os deficientes, com pedaços de árvores fez uma prótese para alongar a perna do Príncipe, que nunca mais teve que andar mancando. O Macaco Gabriel fez coisas incríveis, reconstruiu com galhos e folhas asas para os pássaros e fez muito mais maravilhas.

   Pouco tempo depois, todos os animais já podiam sair em busca de água e comida. O caminho era longo, mas cada um, à sua maneira conseguia trazer um pouco.


 Um dia, O Príncipe, observou que grande parte da água que traziam ia ficando pelo caminho e falou com sua mãe:
- Mamãe, a água está caindo no chão.

   A Rainha sorriu, pediu para que todos prestassem atenção e explicou:
  -A água que vai ficando pelo caminho, vai deixar nossa caminhada mais suave, a terra ficará mais fresca.

   A Girafa Eurides perguntou:
  -Rainha, então a senhora tem o trabalho de trazer tanta água para depois ir deixando cair no chão, de propósito?
  Novamente sorrindo a Rainha voltou a responder com ternura:
  -Sim, é preciso. Este lugar é quente, feio, triste, sombrio e escuro. Essa água que deixamos cair, vai fazer brotar plantas, vai trazer os insetos, vai fazer nascer as flores, as flores nos trarão as borboletas e as borboletas nos trarão a primavera.


   A primeira borboleta, enfim, bateu suas asas no Vale da Tristeza.
  

   Depois de muito, muito tempo, o Vale da tristeza foi ficando cada dia com mais claridade, as nuvens escuras dissipavam-se, brotaram plantas, flores, surgiram as nascentes com água pura. Todos sentiam-se felizes.
   A Girafa Eurides sugeriu:
   - Vamos mudar o nome deste Vale, o que acham?
  Todos concordaram alegres.
  -De hoje em diante vamos chamar de Vale da Felicidade.
   Houve muita festa  e alegria.


   O Príncipe, além de ter nascido com uma pata menor, também tinha outra coisa que chamava a atenção, sua tromba era marcada por pontos azuis verticais.


   O tempo realmente passava devagar no Vale da Felicidade, os mais novos, todas as tardes iam se reunir em uma grande pedra, ninguém no vale sabia exatamente o que eles faziam ou conversavam, até que um dia...


   Como de costume, os adultos estavam reunidos, preparando a refeição e fazendo planos para o dia seguinte, mas um som mágico, como se estivesse vindo do céu lhes chamou a atenção. Todos ficaram em silêncio, de olhos fechados e emocionados. Era um som tão maravilhoso e lindo que esqueceram do tempo. Quando deram por si, a música havia parado, curiosos, correram em direção a grande pedra, o Príncipe e os outros animaizinhos formavam uma linda orquestra, com harpas feitas de cipós, flautas de bambu, tambores de casca de frutas e xilofones de pedras de quartzo. As manchas azuis na tromba do príncipe faziam soar notas musicais, melodias mágicas, como o som de um oboé encantado.

   Era a incrível orquestra da floresta.



   Tudo corria bem até que um dia chegou o Pardal Mensageiro, ele vinha do Vale da Alegria, trazia a mensagem do Grande Conselho, pedindo para que o Rei retornasse urgentemente. O Vale da Alegria estava em convulsão, brigas, miséria e a ganância da Hiena Carlos, destruíram o Vale da Alegria.
   O Vale da Alegria já não era mais alegre.

   Por um instante, todos os animais ficaram preocupados, se o Rei partisse, todos voltariam a sofrer.
 Mas o Rei Alfeu era muito, muito sábio e respondeu ao mensageiro:
   - Diga ao Grande Conselho que já não sou mais rei do Vale da Alegria. Diga que aqui, todos somos iguais. Diga também, que aqui, todos somos reis, rainhas príncipes e princesas. Aproveite e diga ao Grande Conselho que agora, o Vale da Tristeza não existe mais. Diga ao Grande Conselho que aqui é o Vale da Felicidade.


   A primavera chegou novamente e a orquestra da floresta se preparou para o grande espetáculo, o grande espetáculo da vida.


FIM.