Marcos Tecora Teles

Marcos Tecora Teles

Thursday, October 02, 2014

Roger Abdelmassih - Eu Sou Deus

Imagem:Internet





Reportagem: Pedro Riveros

No dia 10 de agosto de 2014 eu estava na cidade de Pedro Juan Caballero. Concluía uma matéria sobre aliciamento de trabalhadores bolivianos que estão sendo levados para o Brasil. Trabalhadores que serão os novos escravos do século 21.
 Enquanto fazia a matéria encontrei um velho amigo, Zack Dominguez. Um milionário agricultor paraguaio e proprietário das maiores plantações de maconha do planeta. Um homem acima de qualquer suspeita. Financiador de campanhas eleitorais em quase toda a América do Sul.
Zack me convidou para passar um final de semana em uma de suas mansões em Assunção. Sabia que ele me ajudaria com informações sobre o que procurava.
No sábado, dia 12 de julho, o pequeno avião veio me buscar. A viagem foi tranquila. Zack me recebeu com a elegância e a alegria de sempre.

Meu encontro com Roger Abdelmassih

No domingo, dia 13 de julho, enquanto conversávamos na piscina, Zack recebeu uma ligação e me disse que estava chegando visita, que eu não me importasse. A visita era um casal, um grande cientista e sua bela esposa.
Minutos depois um automóvel Mercedes, preto, estacionou na entrada da mansão. A mulher desceu primeiro. Nunca a havia visto, mas o homem me pareceu familiar. Já o vira em praticamente todos os veículos de comunicação. Era o ex- médico e fugitivo Roger Abdelmassih.
Feitas as apresentações, a mulher mostrou-se profundamente triste, tinha o olhar cansado, entrou na mansão e de lá não mais saiu. Roger também aparentava cansaço, mas era mais falante. Extremamente educado, abriu a garrafa de Bourbon e serviu a mim e Zack. Pediu que eu o chamasse apenas de Roger.
Roger conversava com Zack e lhe falava sobre a tensão dos últimos dias, das fugas, dos cuidados com as constantes mudanças de endereços e cidades.
Como jornalista, não poderia deixar passar aquela grande oportunidade de fazer perguntas à tão célebre criminoso.
Roger parecia conhecer seu destino, sabia que os dias de fuga terminariam a qualquer momento. Só não sabia nem quando, nem onde. Mostrava-se calmo e às vezes sorria preocupado.
Eu senti que Roger queria falar.

Entrevista com Roger Abdelmassih

P.R - Quem é Roger Abdelmassih?
Roger - Eu sou algo muito próximo de um Deus!
P.R - Por que o senhor acha que é um Deus?
Roger - Eu dei a vida para muitas pessoas!
P.R- Olhando por este lado, todo geneticista é Deus?
Roger- Não, de forma alguma.
P.R - Então, o que o faz afirmar ser um Deus?
Roger- A maneira que encontrei de poder ajudar as pessoas. De como pude torná-las felizes.
P.R - O senhor é uma das pessoas mais procuradas do mundo. Acusado de dezenas de estupros. Acha mesmo que conseguiu fazer alguém feliz?
Antes de responder a pergunta, Roger colocou mais um pouco de bebida em sua taça. Bebeu um pequeno gole, como que procurando no fundo da taça, as palavras adequadas.
Roger - Todas aquelas pessoas que me procuravam, buscavam o que faltava para completar suas vidas. Todas aquelas pessoas queriam um filho. Muitos queriam um filho para amar. Outros queriam um filho simplesmente para tentar perpetuar o nome da família. Tentar perpetuar suas posses. Para a maioria, um filho era a certeza de felicidade. Para muitas daquelas mulheres, a maternidade, era cumprir uma missão. Tudo o que fiz foi tentar dar a elas o que sonhavam. O Deus bíblico não tinha competência para lhes dar, eu tinha!
P.R - Mas o senhor não usou apenas métodos científicos. Usou métodos naturais de fecundação. Sabia mesmo o que estava fazendo? Estava consciente do que isso tudo iria acarretar para suas pacientes?
Roger - A ciência é magnífica, mas sabemos que todo o processo de pesquisa é lento. As pessoas tinham pressa.
P.R - Qual o motivo de violentar suas pacientes?
Roger franziu a testa, acentuando ainda mais as rugas que mostravam sua idade avançada. Sua resposta não foi apenas surreal, foi surpreendente.
Roger - Eu amei cada uma daquelas famílias! Os amei de todo o meu coração. Chegou um dia que não era mais por dinheiro e poder que eu trabalhava, era por amor.
P.R - O senhor acha mesmo que não violentou nenhuma daquelas mulheres? Que o que fez foi por amor?
Roger - Sim! Amor puro e incondicional! Eu tive que deixar de lado muito do que aprendi, tive que deixar de lado décadas de pesquisa, porque eu também comecei a ter pressa em fazê-las felizes.
P.R - Como foi essa mudança? Como foi que resolveu “acelerar” o processo?
Roger - Durante os tratamentos descobri que muitas mulheres eram férteis, que o problema estava nos companheiros, eles eram estéreis. Percebi que não precisava perder meses, anos, com tratamentos que poderiam ser simples. Que não era preciso procurar doadores de sêmem. Percebi que não precisava perder tempo com provetas. Eu seria o doador!
P.R - Suas pacientes perguntavam quem eram os doadores?
Roger - Não. O doador é um segredo guardado para sempre. Tranca-se o cofre e joga-se a chave fora.
P.R - Como o senhor fazia?
Roger - Eu fazia o procedimento normal. Fazia uma parte do tratamento, esperava o tempo adequado, para que as pacientes e seus companheiros não desconfiassem. Marcava o dia da inseminação. Simplesmente as penetrava e ejaculava. Sempre fui um homem fértil.
P.R - Suas pacientes disseram que o senhor as beijava, qual o motivo? Não era “ciência”?
Roger- Não queria que fosse algo mecânico. Precisava ser algo humano. Eu queria que sentissem um pouco de prazer na hora do “ato”.
P.R - O senhor conseguiu engravidar alguma de suas pacientes?
Roger colocou a mão na testa, cobrindo o sol que batia em seu rosto e sorriu satisfeito. Pela primeira vez mostrou-se alegre.
Roger - Não sei o número exato, chegou uma hora que parei de contar. Chega perto de uma centena.
P.R - O senhor é pai de quase cem pessoas?
Roger - Aproximadamente.
P.R - Se o senhor engravidou tantas pacientes, porque somente quarenta lhe acusam de estupro? Acha que vão aparecer mais acusações?
Roger - Acho que depois que tudo isso veio à tona, muitas pessoas não vão querer perder a felicidade que lhes proporcionei. Creio que todos ficarão em silêncio. O silêncio será eterno. Para o bem de todos.
P.R - O senhor leu o livro de Pedro Cavalcanti?
Roger - Li.
P.R- Depois dessa conversa, me diga realmente, quem é Roger Abdelmassih?
Roger - Deus! Eu sou Deus!

Roger Abdelmassih foi preso dias depois em Assunção no Paraguai. Cumpre uma pena de duzentos e oitenta anos em um presídio em São Paulo, Brasil.

Pedro Riveros é apenas um personagem. Esta é uma entrevista fictícia.